terça-feira, 31 de julho de 2007

Fade out (mais um)


24 horas depois da morte de Ingmar Bergman, chega a notícia de que mais um puro-sangue do cinema europeu resolveu fechar a conta neste botequim inóspito em que vivemos.

Michelangelo Antonioni formava, juntamente com Federico Fellini e Roberto Rosselini, a santíssima trintade do cinema italiano do pós-guerra. Ajudou a virar de ponta cabeça o conceito de como fazer filmes, obrigando as platéias a encarar a sétima arte com um olhar diferenciado. Trouxe para o cinema italiano um tom camusiano, que, mesclado com imagens de poesia quase matemática, terminou por influenciar diretamente grandes realizadores franceses (Alain Resnais), alemães (Wim Wenders) e americanos (Stanley Kubrick).

Quem nunca viu "O Grito" ou "A Aventura", precisa ver. Os dois já existem por aí em DVD. São poderosíssimos. E continuam assim, quase 50 anos depois de terem sido rodados. No entanto, revi "Blow Up' e "Zabriskie Point" recentemente, e achei tanto um quanto outro bem frouxos e envelhecidos. "Blow Up" principalmente. Ainda assim, são muito bonitos, plasticamente falando. Michelangelo Antonioni sempre foi craque nesse quesito.

Mas o que mais me impressionou foi rever "O Passageiro", com Jack Nicholson e Maria Schneider. Acho que algum dia, depois de ter sua obra devidamente reavaliada, Antonioni será lembrado por esse filme. É simplesmente espetacular. Cinema com C maiúsculo. O mesmo vale para "O Mistério de Oberwald" e "O Deserto Vermelho", duas obras de uma beleza absolutamente ímpar.

Antonioni estava fora de atividade há mais de 25 anos, por conta de uma série de pequenos derrames que o deixaram sequelado o suficiente para que nenhuma Seguradora endossasse qualquer projeto seu.

Dez anos atrás, seu amigo e "dedicated follower" Wim Wenders peitou alguns produtores e dirigiu um projeto encostado de Antonioni, sob a supervisão do próprio. Deu num filme muito bonito, chamado "Além das Nuvens", que ficou um pouco aquém do melhor de Antonioni, mas no mesmo nível dos melhores filmes de Wenders.

Michelangelo Antonioni viveu muito bem pelo menos 65 dos seus quase 90 anos. Saiu no lucro.

Além do mais, teve o imenso prazer de comer muito a Monica Vitti, o que, convenhamos, não é para qualquer um.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ISSO É QUE É POST. PARABÉNS.

12:28 PM  
Blogger Manuel Mann said...

Obrigado, Anônimo, whoever you are...

10:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

CARAPICUIBA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

12:19 PM  
Blogger Armando Catunda said...

Bela pegada, Chiquinho!

12:40 PM  

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