sexta-feira, 18 de maio de 2007


“Vivo esperando e procurando um trevo no meu jardim... quatro fol...”
- Pois não, senhor?
- Ah! Até que enfim! Um mocamix e um croissant de presunto e queijo.
- Mocamix e um croassant...
- Isso.
- Sete e cinqüenta.
- Débito.
- Ih, a máquina ta quebrada. O visa não ta passando.
- Bom, e...?
- E o quê?
- E agora? O que é que eu faço?
- Só dinheiro ou cheque.
- Mas eu não tenho cheque.
- Então só dinheiro, senhor.
- Quer dizer que se eu não tiver dinheiro aqui comigo agora, eu vou ficar sem tomar café?
- Infelizmente, senhor. Eu não posso fazer nada.
- A sua sorte é que eu tenho aqui... toma! Cinco... sete... sete e vinte e cinco... e cinqüenta.
- É só aguardar na mesa que eu já levo.
“Pra que serve essa merda de cartão se não funciona? Ainda bem que eu tinha um dinheiro, senão ia ficar muito puto. Caramba! Sete e meia, já. Hoje eu tenho que ligar pro amigo do tio da Renata. Ta pegando mal. Eu devia ter ligado pra ele semana passada. Vou sentar nessa mesinha aqui no canto... mas que... nossa, como eu odeio isso! Os caras deviam trocar essas cadeiras e essa mesa também. Além de feias, não dá nem pra sentar direito longe assim. Pra quê parafusar tudo no chão. Eu devia montar um café. Garanto que ia ser bem mais bonito. Se bem que parece que as pessoas só gostam de coisa ruim, mesmo... foda-se! ...Vivo esperando e procurando... que demora! Vou encostar a cabeça aqui atrás um pouco. Se essa cadeira, pelo menos, tivesse encosto... vivo esperando e procurando um trevo... zzzzzz... Caralho! Dormi aqui. Meu mocamix... que horas são? Ufa! Sete e trinta e um... foi só um cochilo. Como é que eu não acordei com a moça trazendo o meu pedido... hummm... esse mocamix é foda... vivo esperando e procurando um trevo no meu jardim...
- Obrigado!
- Obrigada. Volte sempre.
“Que vergonha dormir no Mac, na frente de todo mundo. Eu podia até ter me queimado com o mocamix. Aliás, eu podia mesmo ter me queimado com aquela porra. Não. Eu vou voltar lá agora. Ta louco. Que irresponsabilidade...”
- Ô moça! Como é que você vê que eu to dormindo, e assim mesmo põe o troço quente em cima da mesa. Saiba que eu podia ter me queimado.
- Hã?
- Você deixou o mocamix quente na mesa quando eu tava dormindo.
- Ué, mas o senhor me pediu pra deixar lá.
- Ah, não vem com essa não. Eu tava dormindo e você viu muito bem.
- O senhor ta dizendo que eu quis te queimar, sendo que eu falei: “senhor, o seu pedido” e o senhor respondeu; “Deixa aí que eu pego”. Que que é isso? Eu pus, ué. Não to doida ainda não.
- Ah, ta bom então. Eu sou sonâmbulo agora. É isso? E o amigo do pai da Renata? Vai dizer que eu não tenho que ligar pra ele?
- Ô Rita! Esse homem ta maluco. Eu vou chamar o seu Roberto.
- É por isso que esse país não vai pra frente, ta entendendo? Essas cadeiras grudadas no chão... vá à merda! Palhaçada! A gente nasce, cresce, amadurece, pra quê? Pra ser queimado com um mocamix por uma irresponsável qualquer. É brincadeira! Vou é enfiar um processo na fuça de vocês. É isso mesmo. E quer saber? O croissant tava mais ou menos e o mocamix não tava nem moca, nem mix.
- Mas você nem sequer encostou um dedo no seu pedido!
- Não quero saber. Falei e ta falado. Agora eu vou embora que eu não tenho que agüentar isso. Eu sou cliente e você sabe que eu tenho razão, mocinha.
- Já vai tarde, meu filho. Não to nem aí.
- Ta falando com quem, Lia?
- Ce não viu não, Rita? O cara pediu um mocamix e um croissant, fez um escândalo porque acha que eu quis queimar ele de propósito e não comeu nem tomou nada. Folgado! Que é que eu faço com isso agora, heim?
- Ta louca, Lia? A gente nem abriu ainda, esse copo ta vazio e isso aí não é um croissant. É o seu tênis.