quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Slowhand solta o verbo


Num final de ano em que só se fala da ótima biografia que o Nelsinho Motta fez do Tim Maia -- que, convenhamos, é um cara interessante, mas pouco entrosado no rico cenário musical do qual fez parte, e até por isso um pouco auto-centrado (e cansativo, e repetitivo) demais --, nada como poder ler uma autobiografia de um cara que esteve em todas, fez loucuras absolutamente inclassificáveis, foi ao Inferno e voltou várias vezes, e hoje esbanja serenidade e generosidade com seu próprio passado, e com as pessoas que fizeram parte dele.

Estou falando de Eric Clapton, que acaba de ter sua "Autobiografia" lançada aqui pela Editora Planeta, e que acabo de ganhar de presente da Inês.

Devorei suas mais de 500 páginas em 3 dias, em ônibus, cantos escondidos da escola, reuniões com pais de alunos -- caguei para eles --, conselhos de classe com outros professores -- caguei para eles também --, e banheiros -- sem comentários.

Tem de tudo. Desde as aventuras com o Cream e o Derek & Dominos até períodos de depressão profunda por conta de perdas irreparáveis. Sempre seguindo num tom irritantemente cordial, mas verdadeiro. Ele escreve do mesmo jeito que toca algum número bluesy bem lento.

Destaque especial para sua amizade atrapalhada com George Harrison, que ele considera uma espécie de irmão mais velho. Fala do orgulho que teve em participar da gravação de "While My Guitar Gently Weeps", e do handcap que essa canção deu no status de George dentro dos Beatles -- até então, Lennon & McCartney o tratavam como uma espécie de enjeitado na banda, e quase não acreditaram quando o viram roubando a cena deles com um número tão poderoso.

Fala também da diplomacia prá lá de britânica que eles aplicaram para resolver a desavença no caso Patti "Layla" Boyd. Os dois se reuniram na casa de George para conversar sobre o assunto, e Clapton disse a ele: "Patti e eu nos amamos, e queremos nos casar". George retrucou: "Mas então eu vou ter que me divorciar dela..."

O livro é uma delícia, Clapton é o máximo, e é um grande privilégio ser contemporâneo dele. Não deixem de ler.