terça-feira, 15 de agosto de 2006

O sistema de cotas e o racismo no Brasil

(Este texto foi escrito em abril de 2004 e eu achei ele tão atual que resolvi repeti-lo. Foi feito antes do manifesto dos intelectuais. Só pra não dizerem que eu sou maria vai com as outras.)

Eu escrevi uma vez que era saudável ter alguns preconceitos. Sim. E continuo dizendo. Um exemplo: Todo filme do Van Dame é uma merda. Outro: Um sujeito alto, forte, com cabelo raspado e um pitbull a tiracolo não é um bom namorado para a sua filha. Outro: um sujeito te abordando `as três da manhã no sinal da Avenida Brasil pode te assustar. E pode ser que ele seja negro. E você será chamado de racista por isso. Portanto vamos lá...
É impressionante que ainda exista essa diferença. Chamar alguém de negro, preto ou "negão" deveria significar o mesmo que cabeludo, gordinho ou alemão. Mas não é. Agora me diga: como vc descreve um negro? Quem não pensa duas vezes antes de falar "era aquele negro (ou preto, ou escurinho ou "de cor"-este realmente péssimo) de camisa amarela". Eu confesso que tenho que pensar e não porque eu tenha medo de falar que o cara é negro mas sim porque eu nunca sei como é que esse negão gostaria de ser chamado? Porque eu conheço negros que não admitem ser chamados de outra coisa se não de pretos. E outros só admitem ser chamados de negros. E nós que só queremos dar uma descrição ficamos de saia-justa (opa o problema dos gays a gente fala em outro post). Mas afinal esse é o grande problema do racismo no Brasil, nós (que temos algum coração) vamos viver eternamente endividados e eles eternamente desconfiados. Agora vejam o absurdo: Nós e Eles! É isso que tá errado, porra! Enquanto formos "Nós" e "Eles" essa merda não muda. Puta que o pariu: a merda da Alma não tem cor!!!
Pois então. O ministério da educação quer impor `as escolas de curso superior cotas para negros. Agora me dêem um único motivo para isso. Um cara que mora no Capão Redondo não tem direito a uma vaga na universidade porque tem olhos azuis e cabelo loiro. Ele teve tão pouca oportunidade quanto seu vizinho negro. O foda é isso. Do mesmo jeito que a cor da pele não qualifica nem desqualifica ninguém, também não deveria ser fator de diferenciação a não ser numa descrição: alto, baixo, gordo, magro, ruivo, albino, negro, branco. Não quero dizer que não há racismo no Brasil. Mas nenhum negro nunca foi impedido de entrar numa faculdade pública ou privada, e se foi tem meios legais de se defender contra isso. O problema aqui é a desigualdade social, a falta de oportunidade do pessoal de baixa renda, que não escolhe cor. Todos têm que ter acesso a um bom ensino fundamental e superior. Essas cotas são um jeito de tentar remediar um assunto que ninguém tem coragem de enfiar a mão. E todo mundo acaba se aproveitando dessa culpa histórica. Não seria bom o FMI perdoar as dívidas dos países pobres? Pois então: vamos nos perdoar a todos e começar do zero. Ninguém deve nada a ninguém, pelo menos em se tratando de cor da pele. A história é importante mas eu tenho culpa de ter nascido branco? Eu não tenho orgulho disso. Nem teria se fosse preto, amarelo, azul. Essa é uma discussão imbecil que eu detesto pelo nonsense. Imagina um planeta onde a diferenciação fosse pelo nariz. Os narigudos foram escravizados por muito tempo e hoje merecem cotas em todas as universidades. Qual seria o limite do tamanho? O tamanho das narinas entraria na conta? Imagina as manchetes: "Movimento Pai Cyrano reivindica mais cadeiras na faculdade" ou "Os nazo-brasileiros ganham cotas em faculdades". Não é absurdo. É isso. Dicutir cor é tão absurdo quanto discutir nariz. É o fim de tudo.

1 Comments:

Blogger cris lima said...

Assista assim que puder "quanto vale ou é por quilo"; acabei de assistir e adorei... aí lembrei de ter lido esse texto seu ontem e vim cá deixar esse recadinho!!!

1:12 AM  

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