Diário do Feriadão (O Segundo Dia)
Música na praia sempre foi sinônimo de aborrecimento para muita gente.
Para mim, não.
Desde os tempos em que via os filmes de Frankie Avalon e Annette Funiccello (e Fabian e Connie Stevens) na Sessão da Tarde, acho praias em geral palcos insuperáveis para shows musicais.Lembro de um show do Gilberto Gil em Pitangueiras 25 anos atrás, debaixo de um temporal, que foi um arraso. Estava em processo de gravação de um novo disco ("Luar"), e compôs alí, diante de todos, o refrão que mais tarde viria a ser "Faz muito tempo que não tomo chuva".Lembro de outro show, no Emissário Oceânico, aqui em Santos, em que Paulinho da Viola conseguiu transformar aquele canto fedorento da Praia num lugar tão nobre quanto o Municipal do Rio. Armando Catunda -- meu consorte na ocasião -- é testemunha viva desse momento.Uma vez, no Rio, vi Nara Leão e Roberto Menescal deixarem a Avenida Atlântica em silêncio num show magistral em um palco montado diante do glorioso Copa. Carlinhos Lyra, Marcos Valle e Itamara Koorax, que vieram a seguir, mantiveram o espírito vivo, para que Tom Jobim e sua banda dessem o arremate final num final de tarde absolutamente memorável. E lembro bem de um soundcheck do Elton John argentino Fito Paez no início de uma tarde de sábado num palco montado no Canal 3 para o Festival M2000, em que, depois de ouvirmos algumas canções, pudemos subir ao palco para conversar com ele -- então, um ilustre desconhecido por aqui.
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Pois bem, ontem à noite, o Canal 3 recebeu um show espetacular -- o primeiro de uma série de 3, bancados pela Telefônica para ver se conseguem melhorar a péssima imagem que a empresa tem por aqui --, que foi gravado e deve ser exibido em breve pelo Multishow.A primeira parte era com a Orquestra Bachiana regida pelo ex-pianista malufista João Carlos Martins. Tinha tudo para ser um "freak show" da pior espécie, mas acabou soando simplesmente sensacional. Impressionante como o canalha consegue ser talentoso em tudo o que faz, mesmo completamente debilitado fisicamente.E a segunda parte foi com os Paralamas do Sucesso, mais Roberto Frejat e Paula Toller como convidados, no que em princípio seria um "show bate-carteira", mas que, meio sem querer, se transformou no evento comemorativo definitivo sobre os 25 anos de carreira das 3 bandas que comandaram a cena roqueira carioca nos anos 80 e 90. Impressionante como Herbert Vianna -- de terno -- virou um guitarrista "flashy" depois que ficou impedido de pular o tempo todo diante de sua banda -- sempre impecável, diga-se de passagem, com destaque para João Barone, o baterista mais perigoso do rock brasileiro em todos os tempos.
O show começou e a chuva -- que caía há dois dias -- parou na hora, e não caiu mais. Nem precisou que a platéia gritasse em coro: "No Rain! No Rain! No Rain!". Quando acabou, exatamente às 23 horas -- conforme prometido aos moradores aborrecidos dos prédios da Orla da Praia --. todo mundo foi embora andando tranquilamente pela Avenida da Praia e pela Washington Luis, que havíam sido interditadas pela CET. Não houve registro de qualquer tipo de tumulto, ao contrário do que normalmente acontece aqui em nossa Reserva Indígena praiana. Será o benedito que nós, ilhéus, ficamos afinal civilizados e cosmopolitas? Ao menos, foi essa a impressão que ficou de ontem à noite. Espero não estar errado.
Dona Inês e eu terminamos a noite no Café da Darcy comendo, bebendo e conversando com Eduardo Caldeira e Julinho Bittencourt (e senhoras e filhas) até as 3;30 da manhã, como há anos não fazíamos, falando de Johnny Alf, Carlinhos Oliveira, Nelson Motta, biografia do Tim Maia, Brasília, as pernas da Paula Toller e o novo bar que o Edu vai abrir por esses dias, pertinho de onde ficava o Reciclagem. Jaburu passou pela gente dizendo que vai fazer uma tatuagem na bunda para celebrar seus 59 anos, mas nem isso conseguiu estragar a noite.
E é por essas e outras que eu sou fã de carteirinha dessa cidade.
6 Comments:
Vi em Ipanema um show da Marisa Monte com Paulinho da Viola, Cesária Évora e a velha guarda da Portela (quando quase todos ainda eram vivos), mas nem me lembro do show direito. A vista do Dois Irmãos no pôr-do-sol me tirou a atenção. O resto dos shows que eu vi no canal 3... só aborrecimento, mesmo.
Ele vai tatuar na bunda o que?... Um alvo?
Chiquinho, o show do Paulinho da Viola com os casais dançando como se estivessem em um salão, na areia, debaixo de uma lua cheia de verão, faz parte do Melhor de Tudo.
Teve um do Jorge Ben na praia das Pitangeuiras no Guarujá, onde a Banda do Zé Pretinho botou fogo na água que caía abundantemente do céu.
Tô dentro, show em praia é bom demais!
O dos Stones no Rio para quem encarou aquela multidão apavorante deve ter sido como uma tatoo na alma. Nao sai nunca mais.
Chiquinho, inveja de Santos por essas é ser bobo como sou.
Vc sabe.... moro aqui em Ilhabela.
Meu padrinho o Emanoel, esta nervoso: QUANDO VAMOS TRAZER ESSE FDP PARA PASSAR UNS DIAS AQUI..... na base de cerveja e tira gosto dos bons?
Sei lá Manéu......
Tu que sabe meu....Tu Chiquinho!!! Tu que sabe...morou?
Vem logo ô paiaço!
Show? Na praia? Deus me livre!
Só me lembro de um bacana: O Rei Roberto - com Erasmo e Vandeca - na praia do Gonzaga. Circa 1969. Foi uma brasa!
Meu caro Taturana Pai, faz muito bem em seguindo minhas prescrições médicas abster-se de shows ao ar livre. O sereno não é compatível com sua respeitável idade recém-aumentada.
Um bom livro e um leitinho morno também podem emocionar!
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