domingo, 11 de novembro de 2007

Pra celebrar a vida

Domingo, 11 de novembro de 2007, 16:20h.
Acabo de ligar para a Santa Casa de Saúde de Limeira pra saber do estado do Peterson. Ninguém atende. Sei lá. Por que preciso tanto saber? Eu nem o conheço. Acho que, no fundo, ele representa pra mim o que poderia ter acontecido comigo, com o Filipe, com a Rosana, com a Vanessa, com o Dog, com o Jota Erre, com o seu Isaías. Passados dois dias do susto, a adrenalina começa a baixar e só agora sinto dores em todo o meu corpo, principalmente nos ombros, como se eu tivesse feito muito exercício físico durante a semana. Eu não estava dormindo, não estava distraído, não apaguei nada da memória. Eu tenho absoluta certeza de que não bati em nada. Portanto, as dores que sinto são resultado da tensão de todos os meus músculos, numa tentativa inconsciente de me segurar do choque que prometia fazer muito mais estrago. Eu estava acordado e atento. O caminhão-baú estava parado.
Eu tinha muita coisa pra fazer de manhã. Não ia dar tempo. Arrumar um hotel pro Flecha, o cachorro da minha filha, arrumar uma costureira na vizinhança pra fazer a barra da minha calça, levar a Bruna pra escola, comprar desodorante, arrumar a mala... é, não ia dar tempo. Mas deu. Na farmácia, ainda pude enrolar um pouco, o que me fez comprar um energético a base de catuaba e mel. Achei que iria precisar.
Depois de levar a minha filha na escola, quando cheguei na Panela, a produtora de áudio que eu to montando com o Filipe e mais dois amigos e que era o lugar combinado pra gente se encontrar, o motorista, Seu Isaías, foi comer na padaria enquanto a gente carregava a Van. Com o cuidado excessivo pra não esquecer nada, deu tempo pro Seu Isaías comer sossegado. Saindo de lá, fomos pegar o Jota Erre na Avenida Angélica com a sua “percuteria” e o Dog no Centro com o contrabaixo. O trânsito e a empolgação de todo mundo dentro da cidade contrastou com a calma e o silêncio da Rodovia dos Bandeirantes. Eu dormi um pouco. Quando acordei, estávamos ainda na mesma estrada, e o silêncio dentro da Van era total. O motor do carro e o atrito dos pneus no asfalto só aumentavam o silêncio. Mas agora, eu estava acordado e atento. Quando a traseira do caminhão-baú apareceu, eu logo vi que ele estava parado. Mais nenhum carro a nossa frente. Seria muito fácil desviar. Mas, ao contrário, o nosso motorista acelerava cada vez mais em linha reta. Quando ficou evidente que não havia mais tempo pra evitar a porrada, por um momento eu achei que ninguém poderia escapar. O Silêncio foi cortado pelo alerta do Dog “Santo Deus!”. Logo em seguida, a tentativa frustrada do seu Isaías de sair pela pista da esquerda e o baque. Eu estava acordado e atento. O caminhão-baú estava parado.
Eram quase duas horas da manhã quando eu cheguei na fazenda com os equipamentos. Na escuridão, a estrada de terra no meio dos pinheiros era um cenário um pouco fantástico demais. Pensei: “Será que eu morri?” Deixamos os equipamentos lá e fomos, eu e a Rosana, para a pousada que ficava a uns 4 ou 5 km dali. O Filipe, a Vanessa, o Dog e o Jota Erre iam passar a noite na Santa Casa de Limeira. O médico fora enfático: “Sair, só amanhã de manhã, sem negociações. Eles estão em observação”. Fiquei puto. Era pra todo mundo chegar junto. Eu sabia que eles iriam dormir mal no hospital. Experiência própria. Tive ímpetos de reagir: “Então bota um enfermeiro aqui pra ficar observando, porra!”, mas me calei. A coisa tava feia praquela equipe médica. Vários acidentados chegavam ao pronto-socorro. O caso mais impressionante era de um motoqueiro que iria se casar no dia seguinte. Estava muito mal. Seu nome era Peterson. (Ctrl + B)
A gente fazia muita piada, exagerava, falava alto. Era bom estar vivo. Queríamos tocar. Iríamos tocar. De manhã, eu havia falado pro Filipe: “Não sei pra quê tanto stress. É só um casamento.”. Agora era especial. Foi com muita ansiedade que fomos passar o som de manhã. Não deu muito certo. Tava ruim. Sobrava grave, faltava bom humor. Descobrimos que o contrabaixo do Dog fora danificado com a batida. Mandamos trazer outro de São Paulo. O Dog não passou o som. Aos poucos, as pessoas foram chegando e tivemos que repetir várias vezes a história do acidente. Isso era bom. A gente saiu andando de um carro que já não existia mais. Contar o que aconteceu era estar vivo.
“Como é que foi? Você viu alguma coisa”, “Vi tudo. Eu estava acordado e atento. Parecia que o caminhão estava parado, mas o guarda disse que ele estava a 80 km por hora. A gente devia estar correndo muito”.
A cerimônia foi uma das mais simples e bonitas que eu já vi. A Vanessa chorou bastante. Foi muito bom tocar de novo. Os convidados vinham dar parabéns pra gente no final. Não sei se eles gostaram da música ou do fato de a gente estar ali tocando depois do que aconteceu. O Nariz do Filipe, com os pontos e o curativo, não deixava ninguém esquecer. Mas não era isso. A Rosana, na música final, não deixava dúvidas. A gente agradava. E isso era muito mais que bom.
Comecei a me sentir bonito com o sapato novo que, eu não tinha grana, mas comprei . E me senti importante quando peguei o acordeom. Ainda compro esse negócio e aprendo a tocar direito. Agora, todo mundo já estava no palco, e era tudo o que a gente queria desde o começo. Ma foi só quando tocamos “Oh, Happy Day” que eu chorei. Eu estava acordado e atento. Eu estava cantando e tocando. Eu amava todas as pessoas a minha volta. Percebi que os noivos estava contentes e, naquele momento, sei que a Rosana, a Vanessa, o Filipe, o Jota Erre e o Dog estavam sentindo a mesma coisa que eu. Um prazer indescritível de estar vivo.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Que bom que vcs estejam bem!
Já enfiei a cara na traseira de um caminnhão à noite na Anchieta indo de moto para uma festa em Sampa. Minha mulher na garupa. Parecia que ele estava parado. Saiu da neblina aquela parede sem uma luz na traseira. Como vcs, não era a hora de sairmos de cena, ferimentos mínimos para o que poderia ter sido fatal.
Tomara que o Peterson se recupere e possa casar com uns caras legais como vcs fazendo o som.

1:26 AM  
Blogger CHICO MARQUES said...

Welcome back para todos vocês...Que bom que não foi dessa vez!

Grande abraço

2:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Não se preocupem comigo, eu estou bem, foi até sorte, eu ia dar o golpe do baú mas vocês chegaram na frente.

11:33 PM  
Blogger Dog said...

Fala Daniel!!!!
Estamos vivos!!!!
Abração!!!!
Dog.

10:47 AM  
Blogger Taturana Pai said...

Continuem assim, fazendo apresentações "ao vivo"!

2:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

FICO FELIZ POR TODOS ESTAREM BEM,EM ESPECIAL MEU AMIGO DE PESCA DOG,QUE
HOJE COM CERTEZA VALORIZA MUITO MAIS A VIDA.

8:28 PM  
Anonymous Anônimo said...

FOI UMA PENA. (APAGA BABACA)

10:01 AM  

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