quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Cotovelos e pombas



Eu não gosto de fones de ouvido. Recorrer a eles é como subir a quase ladeira da casa da minha infância pra tomar banho, quando o que eu quero é continuar fazendo gols e tabelinhas com a guia da sarjeta. Mas minha mãe insiste aos berros e eu não tenho escolha. O pior aborrecimento é ter que fazer algo quando se quer fazer outro algo.
Chegar em casa e ouvir o som da rodovia Raposo Tavares invadindo a sala é de deixar qualquer um maluco. Parece que a cidade, sarcasticamente, mimetiza a bagunça que virou a minha vida. Nenhuma rede, nenhum refresco, nenhum passarinho cantando. Aliás, alguém faz alguma idéia da razão pela qual estão morrendo as pombas desta cidade? Tenho encontrado muitas pombas mortas pelo meu caminho e desconfio que isso é um sinal, a não ser que eu esteja vendo sempre a mesma pomba morta, o que não é difícil,já que devo passar muitas vezes pela mesma rua. É que não tem muito espaço por aí. A falta de espaço é o paradoxo da cidade grande. Me sinto numa mesa de jantar acotovelando meus irmãos pra conseguir mais um pedaço de bife. Por que todo mundo quer sempre ir pro mesmo lugar? E por que todo mundo grita? Com tanta bagunça, com tanto barulho, só me resta aumentar o volume do I Pod até a música virar mais barulho. Eu odeio fones de ouvido.