E Viveram felizes para sempre...
Esses dias tava zapeando a tevê com minha irmã quando ela passou por um canal com um filme que eu já tinha assistido.
- Deixa aí, esse filme é legal - eu falei.
- Qual a história?
- Ah, ele é professor de música numa escola. Ele começou a dar aulas contra a sua vontade, mas acabou gostando e...
- E daí ele revoluciona a vida dos alunos mas, no fundo, quem sofre a grande revolução é ele mesmo. No final, ele fica velho e todos os seus alunos de tantos anos o homenageiam tocando uma música que ele compôs... acertei?
- Puts... na mosca.
Caralho! O filme era muito clichê! E chato pra caramba também (minha irmã saiu da sala e eu tentei assistir. No vigésimo minuto desisti). Como pode ser? Eu gostava tanto dele... Indignada, parei pra pensar em todos os filmes dos quais eu gostava e que não via há um tempão. Todos, todos clichezassos! Eu perdi anos da minha vida com filmes clichês! Um lugar chamado Nothing Hill, Noiva em Fuga, Uma Linda Mulher, Jerry Maguire, Casamento do Meu Melhor Amigo, 10 Coisas que eu Odeio em Você. Isso sem contar as novelas. Eu sempre adorei o último capítulo, quando o casal protagonista finalmente ficava junto. Ou aquelas frases tipo "Me veja um uísque (pausa dramática) duplo!". Ou aquele diálogo "Sua chantagista!" "Psiiiu, que isso? Que palavra mais feia". Ou os xingamentos característicos de novelas, como hipócrita (por que é que em toda novela alguém chama alguém de hipócrita? É que nem a palavra doravante, que está presente em TODOS os contratos do mundo escritos em português). Ou aquele momento Deus Ex Machina em que o investigador chega com um calhamaço de papéis e diz "tenho aqui provas concretas de que Laurinha de Albuquerque Figueiroa era culpada". E pronto, todos ficam felizes, fácil assim. E eu nem mencionei todas as novelas que se passam no Leblon com a Regina Duarte como a protagonista Helena e o Tony Ramos ou Antônio Fagundes ou o José Mayer como par romântico. Sobre isso nem vale a pena discorrer. O fato é que eu perdi anos assistindo o mesmo filme e a mesma novela. Perdi, mas também ganhei uma habilidade muito legal: a de reconhecer os bons clichês. Sim, porque o Steve Martin é muito feliz em seus filmes clichês. E tem também aqueles filmes que tem um assunto clichê, mas ganham por sua execução original ou pelas boas sacadas, como Amélie Poulain, Moulin Rouge, Mudança de Hábito, Melhor é Impossível, Indiana Jones e a Última Cruzada. O próprio Woody Allen de vez em quando arrisca um clichê, geralmente bem sucedido. As pessoas tem mania de valorizar a genialidade dos grande diretores de cinema, como Kubrick, Hitchcock, Orson Welles, Scorsese, etc – e os caras são foda mesmo, tem que assistir e tem que elogiar – mas ficam querendo ser cults o tempo inteiro e não admitem que exista genialidade em fazer coisas clichês bem feitas. E, convenhamos, naquele feriado chuvoso que você ficou em São Paulo nada melhor que assistir um clichê bem feito. E nada mais clichê que fazer isso.
- Deixa aí, esse filme é legal - eu falei.
- Qual a história?
- Ah, ele é professor de música numa escola. Ele começou a dar aulas contra a sua vontade, mas acabou gostando e...
- E daí ele revoluciona a vida dos alunos mas, no fundo, quem sofre a grande revolução é ele mesmo. No final, ele fica velho e todos os seus alunos de tantos anos o homenageiam tocando uma música que ele compôs... acertei?
- Puts... na mosca.
Caralho! O filme era muito clichê! E chato pra caramba também (minha irmã saiu da sala e eu tentei assistir. No vigésimo minuto desisti). Como pode ser? Eu gostava tanto dele... Indignada, parei pra pensar em todos os filmes dos quais eu gostava e que não via há um tempão. Todos, todos clichezassos! Eu perdi anos da minha vida com filmes clichês! Um lugar chamado Nothing Hill, Noiva em Fuga, Uma Linda Mulher, Jerry Maguire, Casamento do Meu Melhor Amigo, 10 Coisas que eu Odeio em Você. Isso sem contar as novelas. Eu sempre adorei o último capítulo, quando o casal protagonista finalmente ficava junto. Ou aquelas frases tipo "Me veja um uísque (pausa dramática) duplo!". Ou aquele diálogo "Sua chantagista!" "Psiiiu, que isso? Que palavra mais feia". Ou os xingamentos característicos de novelas, como hipócrita (por que é que em toda novela alguém chama alguém de hipócrita? É que nem a palavra doravante, que está presente em TODOS os contratos do mundo escritos em português). Ou aquele momento Deus Ex Machina em que o investigador chega com um calhamaço de papéis e diz "tenho aqui provas concretas de que Laurinha de Albuquerque Figueiroa era culpada". E pronto, todos ficam felizes, fácil assim. E eu nem mencionei todas as novelas que se passam no Leblon com a Regina Duarte como a protagonista Helena e o Tony Ramos ou Antônio Fagundes ou o José Mayer como par romântico. Sobre isso nem vale a pena discorrer. O fato é que eu perdi anos assistindo o mesmo filme e a mesma novela. Perdi, mas também ganhei uma habilidade muito legal: a de reconhecer os bons clichês. Sim, porque o Steve Martin é muito feliz em seus filmes clichês. E tem também aqueles filmes que tem um assunto clichê, mas ganham por sua execução original ou pelas boas sacadas, como Amélie Poulain, Moulin Rouge, Mudança de Hábito, Melhor é Impossível, Indiana Jones e a Última Cruzada. O próprio Woody Allen de vez em quando arrisca um clichê, geralmente bem sucedido. As pessoas tem mania de valorizar a genialidade dos grande diretores de cinema, como Kubrick, Hitchcock, Orson Welles, Scorsese, etc – e os caras são foda mesmo, tem que assistir e tem que elogiar – mas ficam querendo ser cults o tempo inteiro e não admitem que exista genialidade em fazer coisas clichês bem feitas. E, convenhamos, naquele feriado chuvoso que você ficou em São Paulo nada melhor que assistir um clichê bem feito. E nada mais clichê que fazer isso.
11 Comments:
Nati, eu sou o clichê em pessoa. Se não bastasse assistir - e adorar - todos os filmes em que a Julia Roberts é a mocinha, ou as novelas do Maneco que são filmadas na cidade maravilhosa, eu ainda consigo chorar. Derramo lágrimas e mais lágrimas não só uma, mas em todas as vezes em que passo minhas horinhas em frente a TV. O legal é perceber que, apesar de fazermos parte desse mundo pseudo-cult (no jornalismo isso é ainda mais evidente), somos seres que precisamos sim desses clichês. Não é verdade? O que nos falta é aquele tal de autenticidade. Brega ou não, o importante é ser você - só para não perder o clichê, né?
Beijos
Uma grande vida é feita de pequenos momentos como este. Um filme em dia chuvoso, ou um passeio de mãos dadas à beira-mar com a mulher amada. É por isso que eu digo sempre: essa vida é pra ser vivida! Temos que vivê-la intensamente todos os dias, como se fosse o último! Esta é a chave da felicidade!
Eu adorei seu texto...á ia postar a contraposição, mas vc já a escreveu...danada! Mas eu adooooro Nothing Hill e não enche, tá?rs
Beijos, querida!
E natação é o esporte mais completo!
... o pior é essa gente que vai fazer turismo no estrangeiro, com tanta coisa bonita pra se ver nesse Brasil de meu Deus...
Ei, Nati, que história é essa de falar mal das novelas do Maneco (gênio) ou dos filminhos bobos da Julia Roberts??? Humpf.
Não há nada melhor do que sair de um "Volver" ou de um "Os Infiltrados", de Almodóvar e Scorsese, e se esbaldar no capítulo de "Páginas da Vida", como eu fiz ontem... ;)
Ah, te linquei lá nos meus pitacos, viu? Parabéns pelo blog!
O blog não é só meu. Aqui, cada um é cada um. A gente não ultrapassa nosso limite para não invadir o espaço do outro. Todo mundo se respeita, somos uma grande família. Só com muita união, muito espírito de equipe, é que conseguimos criar esse espaço pra contar ao mundo um pouquinho do que a gente pensa e sente.
Eu sou suspeito para falar, pois adoro clichês (mesmo criticando o tópico do Filipe). Eu acho que intelectualmente e criticamente opinando, levo muito em consideração uma série de aspectos de cada filme e, geralmente, acho o filme ruim. Mas pensando mais no meu lado pessoal, emocional, os clichês são uma peculiaridade que, mesmo mal usados, no sentido clichê-cocô da palavra, prendem qualquer pessoa. Quem nunca ficou na frente da televisão a tarde inteira vendo a Sessão da Tarde? É meio estranho, mas a vida é um montão de clichês. Dar flores; dizer "bom dia", "boa tarde", "boa noite"; e o terno e eterno "eu te amo". Essas coisas são muitas vezes parte das expectativas das pessoas, talvez por instituição, talvez por acomodação e preguiça de ousar. Muito difícil ousar nesse sentido quando já se tem uma raça com sei lá quantos (acho que 10)mil anos de existência. E dez mil anos se comunicando e se relacionando. Tanto é que é muito feliz quem consegue fazer um bem feito. Eu mesmo me pego vez ou outra apaixonado e fofinho com alguém...Resumindo, clichê não é arte, mas faz parte!
Parabéns, então, a todos os outros membros do blog também! Os textos são uma delícia. Beijos e abraços.
Nunca esquecendo Natália que "Clichê de Cú É Rola!"
Chega de clichê. Vamos ousar e fazer algo diferente.
...Tá bom, eu sei. Clichê.
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