sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Carta aberta ao Karnak ou "por que o Karnak tinha que terminar mesmo"

André,

Aqui quem escreve é um fã. Mas um fã bastante crítico. Não esperem cagar no palco e receber meus aplausos. Pra ser meu ídolo tem que fazer por merecer.
E por um tempo vocês fizeram.
Produziram um dos melhores discos da década de noventa e um dos mais importantes da música brasileira. Ainda assim não foram reconhecidos nem pelo público, nem pela crítica. Isso porque a crítica é chata e o público é bobo.
Para a crítica tudo tem que ser sério. Sério não, emburrado. O que eles esquecem é que todos os "medalhões da música" sempre tiveram humor. Noel Rosa, Lamartine Babo, Carmem Miranda, Dorival Caimmy, Tom Zé, Chico Buarque, Tom Jobim (ou Desafinado é uma música séria?), Mutantes, Jorge Mautner, Jards Macalé, Beatles, Mozart... Ampliando para outras artes temos Shakespeare, Woody Allen, Leonardo DaVinci, Andy Warhol, Stanley Kubrick... dava pra ficar um dia inteiro citando nomes. Todos usavam da ironia ou da graça. E mesmo sendo muito sérios não tinham nada de sisudos. Mas crítico é assim. Só entende o que tá catalogado ou o que eles e seus amiguinhos ouviram em Nova York no último inverno.
Já para o público Karnak era uma banda de humor. Tipo um "Mamonas Assassinas" cabeça. O gordão, o japa e uns outros freaks ficavam lá fazendo micagem e todo mundo dava risada e ia pra casa.
O que nem um nem outro percebeu foram as sutilezas. E é impressionante como pouca gente consegue perceber as sutilezas. O melhor exemplo que me vem a cabeça é "Juvenar". No primeiro "último show" de vocês um sujeito do meu lado ria muito enquanto vocês tocavam essa música. Mas era uma risada de achar engraçado e não de achar graça. Logo depois ele gritava pra você entoar sua Ópera.
Pois então, eu adorava quando você canta a Ópera. Eu adorarva rir da suas palhaçadas. Mas eu também queria ouvir o que vocês tinham a dizer. Eu sabia que Juvenar era mais do que uma piadinha boba. Assim como o Alma não tem Cor, o Mundo, Comendo Uva na Chuva. Mas boa parte do público (pelo menos os que costumavam sentar perto de mim) não entendia o Karnak, só entendia as piadas. E devia ser frustrante pra vocês terem que ouvir seus críticos dizerem que suas letras eram infantis ao mesmo tempo que seu público pedia para vocês serem mais infantis.

Eu perdi meu tempo escrevendo isso porque quando eu ouvi o Karnak pela primeira vez eu saí do chão. Eu ria pra caralho e dois versos depois eu estava com nó na garganta quase dando papelão na frente de todo mundo. Essa é a mágica do primeiro disco: como todo grande disco ele se equilibra entre o divertido e o emocionante (vide Sgt. Peppers). Foi depois de ouvir vocês que eu decidi que era isso que eu queria fazer da minha vida. Além disso, a banda que eu formei com meu pai e meus irmãos começou com a gente tocando músicas do Karnak. E é por isso que quando eu soube que vocês iam terminar, eu fiquei triste. Mas aí você falou que o Karnak era apenas o começo e que todos os Karnakos iriam continuar com suas bandas e que seriam vários Karnaks espalhados pelo mundo. Aí eu fiquei feliz. Aí você falou que ia ter um show por ano. Aí eu fiquei mais feliz ainda. Em vez de dar perolas aos porcos, vocês resolveram dar pérolas aos poucos (Eu sei, eu sei, é do Wisnick). E assim todo mundo ficou feliz. Público, Crítica, eu e vocês que espalham o Karnak pelo mundo, não se desgastam entre si e ainda se divertem uma vez por ano.
Eu queria que vocês soubessem que algumas pessoas ali na platéia viram o Karnak de um jeito um pouco diferente. Eu tenho certeza que não fui o único e posso até estar viajando pra caralho. Só que desde aquele que eu pensei que tivesse sido o "últmo show" do Karnak eu tenho vontade de falar essas coisas.
Vida longa aos Karnakos.

Abraço.
Filipe

5 Comments:

Blogger cris lima said...

Assino junto.

11:28 AM  
Anonymous Anônimo said...

um post inteligente, sincero, verdadeiro, divertido, engraçadinho, emocionante, amigo, espirituoso, charmoso, louvável, bem feito, bem escrito, coerente, bonitinho, do fundo do coração, meigo, gracinha, gracioso e viadinho pá caralho. hahaha

5:46 PM  
Blogger Filipe Trielli said...

Viado é verde verde é bambu bola na rede pau no seu cú!

6:19 PM  
Blogger Filipe Trielli said...

mas tá viadinho mesmo...

6:19 PM  
Anonymous Anônimo said...

se eu fosse vocês, colocava esse versinho sobre bambu na contra capa do cd.

6:56 PM  

Postar um comentário

<< Home