Pimentinha no cu dos outros é refresco
Falando em aborrecimentos, o Brasil comemora esta semana os 25 anos da morte de Elis Regina.
Comemora mesmo. Prá valer. Os viúvos e as viúvas de Elis -- assim como os fãs de Gonzaguinha e os fãs de Jessé -- adoram celebrar datas assim. E não negam fogo. Vão até o talo, cantando "Maria Maria" e "Como Nossos Pais" até o dia amanhecer, isso se a vizinhança não chamar a Polícia.
Antes de mais nada, eu queria deixar claro aqui que adoro Elizeth Cardoso, Silvia Telles, Dóris Monteiro, Claudette Soares, Nara Leão, Evinha, Joyce, Maria Bethânia e Gal Costa. E gosto moderadamente de alguns momentos da carreira de Elis Regina. Mas tenho um bode mortal dos últimos anos de sua carreira. Acho quase tudo que ela fez depois de "Elis e Tom" um horror, de uma chatice imperdoável. As excessões, gloriosas, são os discos de estúdio "Essa Mulher" e "Elis 1980" (recém reeditado pela Trama Discos em uma edição especial com um DVD adicional) e o fabuloso disco ao vivo "Ëlis In Montreux", onde divide a cena com o bruxo Hermeto Pascoal.
Aliás, qualquer pessoa que se case com um chato emplumado como o César Camargo Mariano, depois de casamentos mal resolvidos com pessoas tão interessantes quanto Ronaldo Bôscoli e Nelson Motta, só pode ser uma chata. Ninguém se casa com César Mariano impunemente. E Elis, além de tudo, era hiperativa. Ou seja, devia ser uma criatura insuportável.
De alguma maneira, acho que a morte lhe fez bem.
A carreira de Elis estava numa bela roubada, e ela numa tremenda encruzilhada, em 1982.
Na dúvida entre consumar uma parceria musical com Wayne Shorter em Los Angeles -- imaginem o que poderia ser um "Native Dancer Vol. 2" com o casal -- e fazer um disco bem pop e bem comercial aqui no Brasil, com arranjos do intragável (e merecidamente esquecido) Lincoln Olivetti, ela preferiu subir no muro e lançar um compacto -- ainda haviam compactos na época -- com uma versão em português para um bolerão bem lugar comum do Armando Manzanero. E morreu logo a seguir.
Tenho certeza que, se tivesse sobrevivido à OD que a tirou de cena, Elis daria um perdido para cima de Wayne Shorter, e acabaria gravando o tal disco com o Lincoln Olivetti, por pressão de sua nova gravadora, a Som Livre -- escolhida a dedo por ela, difícil imaginar uma gravadora mais problemática operando na época. O "comandante" João Araújo não tinha o menor interesse em discos difíceis na ocasião, e já havia enviado a Elis toques pouco sutis, do tipo "vai entregar esse disco ou não vai, porra?".
Na verdade, o disco não saía porquê Elis não sabia sequer por onde começar. Estava desorientada, e assustada por ter que trabalhar com novos arranjadores depois de tantos anos tendo "o seu arranjador" dentro de sua própria casa.
O caso é que se ela fizesse os discos que a Som Livre queria dela, sua carreira iria acabar patinando em falso por um bom tempo -- assim como aconteceu com Rita Lee, também contratada da Som Livre --, até conseguir encontrar uma sonoridade pop moderna à qual pudesse se adequar, e que não fosse rejeitada por sua legião de admiradores fiéis -- aquele séquito habitual de bichas e solteironas esquerdofrênicas insuportáveis, que todos nós conhecemos.
Elis -- ou melhor, o ego gigantesco de Elis -- adorava esse segmento de seu público.
Eram justamente eles que desmereciam o passado de Elis Regina como sambista ao lado do glorioso Jair Rodrigues, e que torciam o nariz para os ótimos discos "não-engajados" gravados na virada dos 60 para o 70 -- "Em Pleno Verão" e "Elis" --, com produção de Nelson Motta, arranjos do viadésimo maestro Erlon Chaves (da Banda Veneno), seguindo o modelo de discos muito marcantes da época, como "Young Gifted & Black", de Aretha Franklin e "Dusty In Memphis", de Dusty Springfield.
Dizem as más línguas que Elis deu um pé na bunda de Nelson Motta porquê não aguentava mais cantar lá no alto o tempo todo, como uma cantora soul. Queria poder modular mais a voz, como uma cantora de jazz. Nelson não concordava. Queria fazer dela a maior cantora pop do Brasil. Mas então César Mariano entrou em cena e se habilitou a fornecer a moldura musical para a virada que ela queria promover em sua carreira. Andre Midani -- na época, presidente da Phillips -- deu o seu aval, e o resto é história.
Uma história que a cada ano foi ficando mais e mais aborrecida.
Tão aborrecida que consegue resistir 25 anos depois da morte de sua personagem principal.
É por conta disso que qualquer menção ao nome Elis Regina nesses últimos dias tem provocado na minha pessoa incômodos na faixa de 3.5 graus na Escala Milton. Se calhar de alguém balbuciar o nome Regina Echeverria, a irritação pode subir para 5 graus na Escala Milton. E se algum incauto ainda fizer alguma menção à "arte" de Elifas Andreatto: 7.5 graus da Escala Milton --o que justifica inclusive abater com tiros de escopeta o "infelis".
(Peço desculpas pelo trocadilho, mas foi irresistível)
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OS PIORES DISCOS DE ELIS REGINA
(cotados com a Escala Milton de Aborrecimento)
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FALSO BRILHANTE (1976) - 5.5 Graus
Qualquer disco que tenha como ponto de partida um espetáculo teatral não costuma funcionar direito. Este aqui não é excessão à regra. A tentativa de Elis em gravar um disco mezzo-musical off-Broadway, mezzo-rock & roll foi absolutamente frustrada pela pretenção de fazer dele um "statement" para toda uma geração. É um dos trabalhos mais datados de Elis Regina. O tom da banda está errado do princípio ao fim, graças aos arranjos equivocados de César Mariano. Apesar de horrendo, "Falso Brilhante" foi um grande sucesso de vendas, e vende bem até hoje. Vai entender...
ELIS (1977) - 6.0 Graus
Um lixo esse disco. Chato de doer da primeira à última faixa. Elis estava grávida de Maria Rita quando o gravou, o que talvez explique o porquê de Maria Rita ser daquele jeito.
TRANSVERSAL DO TEMPO (1978) - 7.0 Graus
Um dos discos ao vivo mais irritantes de todos os tempos. Repertório engagée, banda tocando mal, som embolado, e Elis se esgoelando ao microfone. Um tédio só.
SAUDADES DO BRASIL (1979) - 7.5 Graus
Outro disco ao vivo, mesclado com faixas de estúdio. Quem dá o tom é Ivan Lins, Milton Nascimento e Gonzaguinha, em números perfeitos para quem sofre de prisão de ventre. Basta Elis soltar a sua voz e...SEUS PROBLEMAS ACABARAM!
O TREM AZUL (1982) - 8.0 Graus
Esse disco só foi lançado porquê o irmão de Elis quis fazer uma grana fácil e vendeu esses masters para a Som Livre. Gravado ao vivo, acho que no antigo Palace. Muito chato, e extremamente mal gravado.
LUZ DE ESTRELAS (1984) - 8.0 Graus
Outra putaria do irmão de Elis. Empurrou para a Som Livre algumas gravações demo que haviam sobrado, e o João Araújo teve a brilhante idéia de chamar Robson Jorge e Lincoln Olivetti para gravar novas bases e depois encaixar a voz de Elis sobre elas. O resultado é que pela primeira vez na história da música popular brasileira, César Camargo Mariano fez alguma falta. Muito ruim.
4 Comments:
Grande texto, Chico! Só preciso confessar que Transversal do Tempo é um dos meus favoritos. Tudo bem que essa impressão ficou da adolescência, da época em que eu estava descobrindo os bolachões dos meus pais, mas não deixa de me trazer boas lembranças.
É, talvez eu tenha sido drástico demais com o 'Transversal do Tempo", ele fica muito aquém de "Saudades do Brasil" e "Trem Azul" no quesito Chatice.
Mas, como eu estava com muito veneno escorrendo pela boca quando escrevi aquilo, não segurei a onda e deixei a maldade fluir livremente.
Se Elis ainda fosse viva, talvez eu até me sentisse culpado por ser tão rigoroso com esses seus discos.
Mas, como não está...
Beijos para vocês dois, Chico
FRANCISCO; DEIXA DE SER CHATO E PEGA LOGO NO MICROFONE E CANTA:
"QUERO VOAR DE MÃOS DADAS COM VOÇE"
BEIJOS DO SEMPRE SEU:JUCA
Caralho Chiquinho, tu escrevendo parace agente falando, só que muito melhor... e mais rápido,
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