terça-feira, 17 de outubro de 2006

Hey Hey, Dee Dee, Take me Back to Piauí


Opa! Vida inteligente na imprensa brasileira! Eu juro que vi! Vocês precisam ler a revista piauí (uh! rimou, sô!).

Quando soube que o projeto da publicação era de João Moreira Salles – aquele cineasta que, entre um documentário retratando todo o charme e a beleza do traficante brasileiro e outro sobre campanha vitoriosa de presidente analfabeto, bancou (afinal o cara é herdeiro do Unibanco) mesada pra bandido escrever livro e se regenerar (obviamente frustradas ambas as tentativas) – fiz muxoxo e pensei: ih, lá vem suburbanada-cabeça, tipo Bravo, Cult e quetais. Enganei-me. A revista é do balacobaco.

piauí (assim mesmo, sem maiúscula) terá como publisher, além do cineasta altruísta, o dono da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, que raramente erra o alvo. Na equipe, Mário Sérgio Conti como diretor de redação, Marcos Sá Correa de comandante anárquico, e um time respeitável de críticos, escritores e jornalistas (a lista é extensa e tenho preguiça de citá-los. Vejam lá).

De cara, uma boa surpresa: a revista mensal não tem editorial (mais uma rima dessas, e eu paro de escrever, juro). Quando que imaginaríamos ter uma revista brasileira sem editorial? Sim, meus caros, seremos poupados daquele festival de clichês-urge-que-a-sociedade-se-imponha-diante-de-tamanho-descalabro-do-poder-público (eu sei, eu sei... vocês, como eu, não lêem editoriais há muito tempo. Mas acredito que eles ainda comecem ou terminem assim, não?).

Tudo indica que a idéia dos caras é a de que a piauí seja a nossa The New Yorker. Tá, pretensão pouca é bobagem. Mas, vá lá, o formato gráfico tem charme semelhante e as matérias, seguindo o modelo da inspiradora americana, fogem do beletrismo e do academicismo de abotoaduras que encharcam nossas publicações culturais. Aliás, piauí – regozijai-vos – não é uma revista “cultural”. Tem de tudo: medicina, beleza, esporte, televisão, cultura (humpf!), religião, política, turismo, urbanismo, etc. São artigos extensos, pra quem gosta de ler boas histórias e, provando que Sá Correa sabe o que faz, muito bem editados.

Por que piauí? Com a palavra, os editores, na apresentação da revista na internet: “piauí não tem resposta pra nada. Nem para quem pergunta por que ela se chama piauí”. Sacaram?

Mas o melhor de tudo é o artigo do Ivan Lessa sobre o Rio de Janeiro, depois de vinte e oito anos sem pisar em terra brasilis. Alguém disse (acho que o Sérgio Augusto) que Lessa é o melhor escritor desse nosso Bananão – embora nunca tenha escrito um livro. Pois, sem exagero, acho que esse artigo redime o terrível Ivan da tarefa. Está tudo lá: a velha e boa sacanagem cáustica do nosso melhor escritor londrino, e, desde a morte de Paulo Francis, a melhor crônica sobre a nossa bananeira idolatrada. Salve, salve.

Leiam, leiam...

***

E já que estamos indo de dicas, vejam aqui como o mundo já foi bem menos aborrecido com o Cab Callowey e os Nicholas Brothers.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tem site, esta porra? ou só nas bancas?

4:13 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ô, intelectual santista, vc não conhece o google, não? O endereço é http://www.revistapiaui.com.br/. Mas não se anime, vc não vai conseguir ler as reportagens online, só saber o que rola na edição impressa. Vai ter que levantar o bundão da cadeira ou do sofá e ir até a banca comprar!

2:36 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parafraseando Cristhian "Nenezinho" Moreno:
"Papo-cabeça?! Cabeça do meu pau!"

10:45 AM  

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