Papo Cachorro
Continuo tentando adiar o inevitável, como diz o Woody Allen. Corro quase que diariamente uma média de oito mil metros pelas praças que ficam entre os Jardins Europa e América. Me faz muito bem e tal. Mas o melhor é o que vejo pelo caminho. Dondocas bundudas com seus personals trainers, velhinhos e velhinhas com cara de quem nunca fizeram mal a ninguém, “amigos” que me cumprimentam como se me conhecessem há anos, seguranças fazendo minha segurança, sabiás cantadores (ah, minha velha espingarda de chumbo), maritacas fofoqueiras.
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Vez ou outra, quando me animo a correr nos fins de semana, passo pelo senador Suplicy correndo na mesma velocidade do seu (dele, lá) raciocínio. Ele, “bom dia”. Eu, em bom tom, “bom dia senador”, e quase sussurrando, “Mogadon”. Pra quem não sabe, Mogadon é um remédio tarja preta (tá lá no google) indicado para fadiga, apatia, debilidade e incoordenação motoras, letargia e confusão mental. Então, lá pelos anos noventa, é claro que o Paulo Francis acertou na mosca ao apelidar o Suplicy de Mogadon – o que naturalmente lhe custou alguns processos acionados pelo senador babão. Como sou muito menos corajoso que o Francis, quando passo e digo quase sussurrando “Mogadon”, espero que o senador não me ouça. Afinal, o cara pode ser molenga, mas já foi lutador de boxe. Eu, hein...
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Mas, divago. O que eu quero contar é a conversa que ouvi hoje de manhã, ao passar correndo por uma das praças dos Jardins. De longe, eu jurei que tive a impressão de que um setter irlandês e um labrador, sentados lado a lado, conversavam animadamente. Diminuí os passos e me aproximei da dupla canina que, de fato, conversava animadamente.
- ... mas, old dog, é obsessão genética, bolinha é obsessão. Vem lá dos nossos ancestrais.
- Acontece que minha teoria é a de que toda nossa dependência deles é por causa da bolinha. Precisamos resistir.
- Tsc, Tsc, esses irlandeses...
- Olha só: podemos caçar, portanto, não precisamos deles pra comer. Devíamos voltar à nossa forma selvagem. Afinal temos tudo pra isso.
- Tá, mas, e a bolinha? Quem joga?
- Pois é, não temos os malditos braços com as pinças... Mas Darwin...
- Que mané Darwin, seu... olha a bolinha!
- Sai que é minha!!
- ... mas, old dog, é obsessão genética, bolinha é obsessão. Vem lá dos nossos ancestrais.
- Acontece que minha teoria é a de que toda nossa dependência deles é por causa da bolinha. Precisamos resistir.
- Tsc, Tsc, esses irlandeses...
- Olha só: podemos caçar, portanto, não precisamos deles pra comer. Devíamos voltar à nossa forma selvagem. Afinal temos tudo pra isso.
- Tá, mas, e a bolinha? Quem joga?
- Pois é, não temos os malditos braços com as pinças... Mas Darwin...
- Que mané Darwin, seu... olha a bolinha!
- Sai que é minha!!
1 Comments:
Claramente inspirado na Malu
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