segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Aborrecimento Tamanho Familia


Você sabe que virou um pacato homem (quase) casado quando chega para sua -- eu prometi nunca mais usar este termo -- companheira e propõe a ela uma ida ao cinema.

Você então oferece a ela três opções bem qualificadas -- no caso deste final de semana, "O Perfume", "Caminho Para Guantânamo" e "Mais Estranho Que Ficção".

E todas são rejeitadas por ela, logo de imediato.

Em vez disso, ela lembra que viu no "Video Show" -- você também viu, mas tenta se fazer de desentendido -- que acaba de estrear o longa-metragem da "Grande Família".

E então você concorda em assistí-lo, só para não bancar o desagradável -- mesmo sabendo de antemão que o filme tem 99% de chances de ser um lixo.

(é o que dá ter visto tantos filmes ao longo dos últimos 35 anos, não existem mais surpresas, você sempre sabe de antemão quando vai se aborrecer numa sala de cinema)

Pois bem, assim que o filme acabou, confesso que fiquei triste.

Aqueles personagens, muito simpáticos no contexto do seriado, em episódios com 40 minutos de duração, ficaram terrivelmente duros e sem graça na tela grande, numa história com intermináveis 114 minutos. Culpa do Maurício Farias, um diretor inexpressivo, e do Cláudio Paiva, que errou a mão num roteiro confuso que mistura "O Dia Da Marmota", de Harold Ramis, com "Do Mundo Nada Se Leva", de Frank Capra, sem jamais chegar a lugar algum.

As gargalhadas, que brotam fácil na série de TV, custam a sair no filme. O elenco parece perdido, sem saber para onde ir, e sem sentir segurança da parte do diretor para poder desempenhar direito os seus papéis. Eu confesso que só consegui achar graça em algumas cenas de Marco Nanini fazendo Lineu bêbado. O que é muito pouco, Conheço alguns bêbados muito mais engraçados na vida real.

O caso é que existem regras não-escritas para as comédias de situação na TV americana que o pessoal da TV Globo insiste em não levar em consideração. Uma delas é: o que é TV, é TV, e o que é cinema, é cinema. Quando "Seinfeld" acabou, não pulou para a tela grande. "Mad About You' e "Third Rock From The Sun" também não. : Everybody Loves Raymond", "Becker" e "Will & Grace", menos ainda. Todos foram "cancelados", mas não morreram: ficaram eternizados em reprises sempre benvindas.

Mas para a Central Globo de Produções, quando um seriado acaba --e parece que "A Grande Família" vai acabar, Marco Nanini não aguenta mais fazer o Lineu, já encaminhou vários ultimatos para a direção da empresa --, ele precisa necessariamente pular para a tela grande, pois a TV Globo não tem o hábito salutar de abrir espaço em sua grade de programação para reprises de seus seriados clássicos.

Daí começa essa palhaçada de querer transpor para o cinema coisas que só fazem sentido na tela da TV. E mesmo depois de 2 filmes horrendos com o pessoal do Casseta e Planeta, um filme desastroso com Os Normais, e mais essa aventura inglória da Grande Família, tudo indica que eles devam continuar insistindo no filão. Ou seja, vem mais do mesmo por aí.

É muito aborrecida essa prepotência dos executivos da Globo em sempre afirmar que "nós fazemos o nosso público". Até porquê eles não estão errados em agir assim. Conhecem bem tanto o telespectador quanto o ""moviegoer" brasileiros. Segundo dados colhidos pela Luana -- ela mesma, a nossa Luana -- com alguns assessores de imprensa amigos dela, parece que "A Grande Família" está batendo recordes de bilheteria para um filme brasileiro na semana de estréia. O que significa que o filme deva engatar pelo menos mais 2 ou 3 semanas em cartaz.

Sendo assim, vocês tem, por baixo, uns 20 dias para tentar enrolar suas mulheres, caso elas tenham a mesma idéia que a minha teve. Inventem qualquer coisa. Mas fujam de "A Grande Família".

E não me agradeçam. Apenas cumpri meu dever de cidadão.

A GRANDE FAMÍLIA
(em cartaz nos melhores e nos piores cinemas do Brasil)
Cotação: 4.5 na Escala Milton de Aborrecimento