quinta-feira, 5 de abril de 2007

O Primeiro de Abril de Keith Richards


É impressionante como desabou o nível dos jornalistas de publicações musicais nos últimos anos.

Foi-se o tempo em que Chris Welch era o modelo do jornalista musical na Inglaterra, e Lester Bangs sua versão americana -- isso para não mencionar o expressivo time de "little hemingways" da revista Rolling Stone, com Cameron Crowe, Dave Marsh, Paul Nelson, Greil Marcus, Mikal Gilmore e Kurt Loder, entre outros.

Hoje o que temos é um bando de idiotinhas da objetividade, como essa repórter do New Musical Express, que foi escalada para entrevistar Keith Richards, e que conseguiu ser imbecil o suficiente para tentar se promover de forma sensacionalista em cima de uma declaração muito divertida dele -- de que teria cheirado as cinzas do pai, falecido em 2002, junto com muita cocaína, isso ao longo de várias semanas, e se sentindo extremamente rejuvenecido depois deste "tratamento".

Claro que o tiro saiu pela culatra, quase todos os setores da imprensa racharam de rir com a declaração de Keith, e a idiotinha da repórter foi tratada como uma suburbana ingênua sem um pingo de senso de humor -- ainda mais na Inglaterra, onde sempre se praticou o melhor humor do planeta, desde Bill Shakespeare até Sacha Baron Cohen (calma, Leão!).

Mas o mais tenebroso de tudo isso é o NME -- publicação com um histórico glorioso -- assumir uma postura editorial semelhante à de "The Sun" diante dos Rolling Stones, isso depois de tantos e tantos anos cobrindo -- sempre candidamente -- tournées dementes e completamente perdulárias -- às vezes até suicidas -- de Suas Magestades Satânicas.

Fica a sensação estranha de que o povo inglês, a cada ano que passa, fica mais americano. Mais calvinista. Mais sentimentalóide. Mais pragmático (no mau sentido do termo). E, o que é pior, disposto a abrir mão de uma bagagem cultural que levou algumas centenas de anos para ser construída.

Quem viu o filme "A Rainha", e se impressionou com a facilidade com que os assessores de Tony Blair manipularam as editorias dos tablóides londrinos, talvez não devesse se indignar tanto com essas coisas.

Mas, cá entre nós, é patético ver alguém querer difamar Keith Richards por alguma estrepolia que ele possa ter feito, quando na verdade ele sempre foi craque em se promover em cima de um folclore absolutamente demente, e a imprensa sempre deitou e rolou em cima de seu cotidiano de "fear and loathing".

Ontem (4 de Abril), foi necessário que um emissário dos Stones viesse a público educadamente para explicar que a declaração de Keith foi apenas uma brincadeira de Primeiro de Abril, nada além disso.

Em outras épocas, o próprio Keith convocaria a imprensa e diria algo bem menos delicado, como: "Oh boy, if you can´t take a bloody rock and roll joke, too fuckin´ bad!!!".

4 Comments:

Blogger Filipe Trielli said...

Pois é Chiquinho,
Ingleses que costumavam ser a excelência do humor e do rock já não são mais os mesmos.
E é aí que a gente descobre que o Rock'n Roll realmente morreu - e eu também já não estou me sentindo muito bem..

1:54 PM  
Blogger Filipe Trielli said...

Aliás, bela foto do Keith...

1:55 PM  
Blogger Taturana Pai said...

Esse episódio é a síntese do que está acontecendo nesse mundo pautado pelas cartilhas politicamente corretas.

Escreve aí: em breve, teremos de explicar TODAS as piadas.

6:03 PM  
Anonymous Anônimo said...

SE OS ROLLING STONES,,PORQUE O KEITH RICHARDS ???

12:18 AM  

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