quarta-feira, 6 de junho de 2007

Comemoração de 40 Anos de "Sgt Pepper" é só aborrecimento


Como se não bastasse toda a presepada em torno dos 40 anos de "Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band", com matérias inócuas em sites, jornais e noticiários de TV, vendendo a idéia de que o disco dos Beatles é o maior e mais audaciososo da história do rock and roll -- o que está longe de ser verdade, nem é o melhor dos discos dos Beatles --, agora começam a aparecer matérias supostamente sérias sobre ele, como a que André Singer acaba de escrever para a Piauí desse mês, academicamente entitulada "Crítica e Autocrítica em Sgt. Pepper, 40 Anos".

Para quem não sabe, André Singer foi Porta Voz da Presidência da República no primeiro mandato do presidente Didi Mocó, e se apresenta como cientista político, jornalista e professor da USP. Na verdade, ele é da turma do bundinha Otávio Frias Filho, e militou na Folha por um longo período, principalmente na Ilustrada, nos anos em que foi editada por Matinas Muzuki.

Foi ele quem, 20 e poucos anos atrás, fez o jogo sujo da direção do jornal, detonando publicamente o jornalista Pepe Escobar, que reinava na Ilustrada com textos sempre extensos e clarividentes sobre música, e não abria espaço para outros jornalistas interessados em escrever sobre o assunto.

Singer denunciou um artigo assinado por Escobar sobre o disco "Let's Dance", de David Bowie, que na verdade era uma tradução de uma matéria publicada na Rolling Stone americana. Vai saber se Escobar realmente roubou o artigo... Eu, pessoalmente, duvido. O mais provável que que tenham armado uma cilada para ele na redação, e ele tenha caído como um patinho.

O caso é que isso gerou náo só a demissáo de Escobar do jornal, como também a sua desgraça como jornalista. Depois disso, não conseguiu mais trabalhar em lugar algum. Pirou, depois virou budista, e entáo se arrancou para a Índia. Graças a Wagner Carelli, reapareceu como colunista das revistas República e Bravo nos anos 90, para depois sumir do mapa novamente.

Pois bem, dadas as credenciais, vamos ao texto publicado na Piauí.

André Singer teima em reduzir "Sgt Pepper" a uma visão academicista e formal, algo que simplesmente não combina com rock and roll. Tenta reforçar suas teses sobre o disco com citações de sociólogos e cientistas políticos, e tece comentários pretensamente elucidativos, sempre com pseudo-empirismo irritante.

Mas erra redondamente quando tenta vender a idéia de que o conceito do disco é grandioso.

Não é.

Grandiosa é a produção de George Martin.

O conceito do disco é muito simples.

O que os Beatles queriam fazer em "Sgt Pepper" -- e conseguiram, de forma brilhante -- era uma espécie de Revista Musical Psicodélica, mais ou menos nos moldes das revistas que os teatros ingleses levavam nos anos 30 e principamente nos anos 40. Quem viu o filme "Ms. Henderson Presents", de Stephen Frears, sabe bem do que eu estou falando.

O teatro de revista era muito popular em toda a Inglaterra. Era praxe os músicos serem contratados permanentes dos teatros. O pai de Paul McCartney, que era músico, era profissional em casas assim. Muito da musicalidade de Paul vem justamente de seu convívio com as canções daquele período. E então, durante a guerra, esses teatros de revista viraram uma espécie de resistëncia não-politizada aos toques de recolher, pois faziam sessões corridas de seus espetáculos durante o dia, já que à noite tudo tinha que fechar por conta dos bombardeios que assolavam as cidades inglesas -- Londres principalmente.

"Sgt Pepper" foi obviamente concebido nesse espírito, e adequado ao momento de 1967, com um suposto grupo de uma Revista Musical saudando os Beatles, e abordando os temas do momento -- o advento do LSD, a guerra do Vietnam, as incertezas, as mudanças drásticas de comportamento que estavam em voga, e, claro, a postura de avestruz da Realeza Britänica e de seus súditos em relação a todos esses temas.

Com o brilhantismo de George Martin por trás da empreitada, e graças a sua perfeita sintonia com os quatro Beatles, "Sgt Pepper" acabou ganhando uma dimensão artística muito além do imaginado.

E como foi um disco que custou muito caro, veio acompanhado do maior aparato promocional da história de indústria fonográfica até então, o que alavancou as vendas de forma avassaladora, e acabou definindo padrões tanto estéticos quanto mercadológicos para as bandas contemporäneas dos Beatles.

Para mim, a grandeza de "Sgt Pepper" está justamente aí.

Até porquë eu não tenho a menor dúvida de que, numa comparação com "Revolver", por exemplo, o conjunto de canções de "Sgt Pepper" sai perdendo feio.

Digo mais: não acho nenhum exagero dizer os compactos "Strawberry Fields Forever/Penny Lane", e 'Hey Jude/Revolution" são mais interessantes musicalmente que o "Sgt Pepper" inteiro.

Isso sem mencionar o atenuante de que, para quem está sendo apresentado aos Beatles agora, começar por "Sgt Pepper" é totalmente inadequado. "Rubber Soul" e "Revolver" são melhores opções, resistiram muito melhor no teste do tempo.

Mas verdade seja dita: o grande disco dos Beatles é, e sempre vai ser -- isso indepndente de qualquer gosto pessoal -- "Abbey Road". O danado é simplesmente perfeito da primeira à última faixa. E continua fresco e atualíssimo como se tivesse sido gravado semana passada.

Quando "Abbey Road" fizer 40 anos, aí eu prometo que comemoro.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Muito bem Maneco, concordo com tudo, inclusive com a comemoração do "Abbey Road". Semelhante acontecimento sucedeu-se com o disco de Nelson Ned. Fizeram todo aquele carnaval e o disco não foi grande coisa (haja visto o tamanho do cantor) bom de fato e pouco divulgado foi Reginaldo Rossi, com a faixa "Garçom" isso sim é a mistura música/teatro. Quando o disco da Vanessa Camargo fizer 40 anos haveremos de comemorar. Juntinhos.

11:16 PM  
Anonymous Anônimo said...

Atenção corrigir o "haja" por "aja" e "gaçom" por "garçom".
Depois vem o Taturana Pai corrigir. Aí aja saco.

11:23 PM  

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