Post mortem
Acordei contente, esta manhã. Dei bom dia para a minha madrasta, para o meu irmão mais novo, tomei minhas pílulas da felicidade, meu banho e me preparava para ir à minha sessão gratuita de análise.
Dei bom dia para a faxineira – deixei três camisetas pra ela passar – tomei um copo de leite, passei o desodorante e abri a mochila, procurando uma anotação em um dos meus dois cadernos. São cadernos pequenos, presos por espiral, onde anoto os meus afazeres diários, que nunca leio.
Dei bom dia para a faxineira – deixei três camisetas pra ela passar – tomei um copo de leite, passei o desodorante e abri a mochila, procurando uma anotação em um dos meus dois cadernos. São cadernos pequenos, presos por espiral, onde anoto os meus afazeres diários, que nunca leio.
No mais antigo e usado, dado de presente no primeiro dia do meu atual trabalho, há cinco meses, uma anotação me chamou a atenção. Deu tapa, desses que a gente leva de vez em quando e te faz, por dois minutos, reviver alguma coisa. Como quando a gente sente o mesmo cheiro do perfume da professora da primeira série – o primeiro grande amor platônico. Aquele olor te transporta até o pátio da escola, faz até o ouvido zunir com os gritos agudos das meninas jogando queimada.
“Eu te amo muito, bonitinho. PUTÃO MAIS LINDO DO MUNDO!” Tava lá, escrito, com todas as letras. Nunca tinha lido antes. Era pra ser uma surpresa. Tornou-se o recado de um amor post mortem. Escrito quando ainda era vivo. Por três segundos, a minha respiração parou. Senti como se a ponta do lápis tivesse se desfeito poucas horas antes naquele pedaço de papel, bem entre a anotação do horário de uma reunião e de uma estrela de telefone, daquelas que a gente faz quando está ouvindo um interlocutor do outro lado da linha. Naquele instante, cheguei a vê-la deitada na cama à minha frente, semi-nua, uma perna para fora das cobertas, os olhos inchados, o cabelo bagunçado e o mau humor matinal.
Mas a realidade se mostrou novamente, com todas as perguntas sem resposta que habitam o lugar comum dos romances. "Como algo tão genuíno pôde acabar? Quem é o culpado? Foi assassinato ou morte natural?" Doeu, como uma cicatriz que dói com a mudança do clima. Por esse fim tão sem final, sem créditos e música-tema. Nem triste, nem feliz. Simplesmente uma ruptura. O rolo queimou no meio da sessão.
Coincidência. Hoje, na análise, chorei pela primeira vez.
“Eu te amo muito, bonitinho. PUTÃO MAIS LINDO DO MUNDO!” Tava lá, escrito, com todas as letras. Nunca tinha lido antes. Era pra ser uma surpresa. Tornou-se o recado de um amor post mortem. Escrito quando ainda era vivo. Por três segundos, a minha respiração parou. Senti como se a ponta do lápis tivesse se desfeito poucas horas antes naquele pedaço de papel, bem entre a anotação do horário de uma reunião e de uma estrela de telefone, daquelas que a gente faz quando está ouvindo um interlocutor do outro lado da linha. Naquele instante, cheguei a vê-la deitada na cama à minha frente, semi-nua, uma perna para fora das cobertas, os olhos inchados, o cabelo bagunçado e o mau humor matinal.
Mas a realidade se mostrou novamente, com todas as perguntas sem resposta que habitam o lugar comum dos romances. "Como algo tão genuíno pôde acabar? Quem é o culpado? Foi assassinato ou morte natural?" Doeu, como uma cicatriz que dói com a mudança do clima. Por esse fim tão sem final, sem créditos e música-tema. Nem triste, nem feliz. Simplesmente uma ruptura. O rolo queimou no meio da sessão.
Coincidência. Hoje, na análise, chorei pela primeira vez.
35 Comments:
Mas, vem cá, cê chorou na frente da analista? Fez beicinho e tudo? Putz...
Agora, sem sacanagem, tá bonito isso, Leão...
Vc é fudido
Primeiro, obrigado pelos elogios.
Segundo, vai uma bronca.
Filipe, recebi dois telefonemas. Um foi a gramática e outro foi uma leitora que queria deixar comentário e não deixou pq não tem cadastro no blogger.
Por que não pode mais ter recados anônimos ou com nomes diferentes dos seus verdadeiros? Isso é uma decisão sua ou do Google?
Vc tá me devendo R$ 15, hein! R$ 5 por camiseta.
Leão, você é demais!
realismo! detalhes mínimos!
tirei 4,2 nessa prova ehe
gostei primão.
passo por isso quase todos os dias...
Léo, você é lindo. E ponto final.
Saudade, menino!
Sim, sim. Eu senti isso molhando o bicoito!
E eu curei isso queimando a rosca
Pô Leão... Aborreceu. Mas tá legal.
Sabe que eu sou sensível prá caralho.
É a vida. Um beijo.
By the time I get to Phoenix she'll be rising / She'll find the note I left hangin' on her door / She'll laugh when she reads the part that says I'm leavin' / 'Cause I've left that girl so many times before
By the time I make Albuquerque she'll be working / She'll probably stop at lunch and give me a call / She'll hear that phone keep on ringin' / Off the wall / That's all / That's all / That's all...
By the time I make Oklahoma she'll be sleepin' / She'll turn softly and call my name out loud / She'll cry just to think I'd really leave her / Though time and time I try to tell her so / She just didn't know I really would go.
Este comentário foi removido pelo autor.
Leão, a Michelle Loreto está uma gracinha hoje (apesar de estar usando uma blusa pouco reveladora, o que é uma pena), e ela está dizendo que vai fazer sol hoje e amanhã. Sendo assim, deixe os blues de lado neste fim de semana
E nunca esqueça da sábia e clássica prescrição médica do Dr. Norman Mailer: mantenha-se sempre dois drinks adiante do resto da humanidade.
(peraí, agora fiquei na dúvida se quem disse prescreveu isso foi o Dr. Mailer, o Dr Humphrey Bogart, ou o Dr. Dean Martin...)
Beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
Foi o Bogart, Chiquinho.
A receita do Mailer é mais contundente: enfiar porrada e facada em mulherinhas malcriadas.
Este comentário foi removido pelo autor.
Léo,
Difícil alguém conseguir me arrancar uma lágrima. Seu texto hoje conseguiu por dois motivos:
MOTIVO 1
Ele é REAL... verdadeiro, brilhantemente escrito, impecável.
MOTIVO 2
Fui a primeira pessoa com quem você compartilhou seu "achado" e nessa correria do dia a dia que nos cega, fui banal, virei pro lado e falei um "que legal" vazio e provavelmente devo ter dito "Léo, temos 212 coisas para fazer, muita informação!!!!!!"
Que se danem as 212 coisas. Seu texto também me "Deu tapa, desses que a gente leva de vez em quando". Um tapa que me fez acordar para o realmente importa.
Que orgulho de você! Muito obrigada por existir. Te amo.
Da sua "chefinha", amiga, mãe, irmã, aprendiz,
Rê
Léo,
Difícil alguém conseguir me arrancar uma lágrima. Seu texto hoje conseguiu por dois motivos:
MOTIVO 1
Ele é REAL... verdadeiro, brilhantemente escrito, impecável.
MOTIVO 2
Fui a primeira pessoa com quem você compartilhou seu "achado" e nessa correria do dia a dia que nos cega, fui banal, virei pro lado e falei um "que legal" vazio e provavelmente devo ter dito "Léo, temos 212 coisas para fazer, muita informação!!!!!!"
Que se danem as 212 coisas. Seu texto também me "Deu tapa, desses que a gente leva de vez em quando". Um tapa que me fez acordar para o realmente importa.
Que orgulho de você! Muito obrigada por existir. Te amo.
Da sua "chefinha", amiga, mãe, irmã, aprendiz,
Rê
Leão, aproveita aí o clima e pede um aumento, rápido...
_BEM VINDO!
"O que está faltando para a humanidade são duas doses de martini.
O QUE FALTA PRA HUMANIDADE SÃO DOIS PEGUINHAS NUM BOM BAGULHO
What the World Needs Now...
Is Love, Sweet Love...
belo texto. aumento, explique ao seu pai, voce ja ganhou, e ganha mais um elogio, por esse texto falsamente simples, maravilhosamente elaborado sobre um dia (in)comum de um atarantando jovem brasileiro
I don´t really want to stop the show.
But i thought you might like to know.
That the singer´s going to sing a song.
And he wants you all to sing along.
So let me introduce to you.
The one and only billy sheas.
And sergeant pepper´s lonely hearts club band.
All You Need Is Love
(dah de dah de dah)
All You Need Is Love
(dah de dah de dah)
All You Need Is Love, Love
Love Is All You Need
Love Is All You Need
Love Is All You Need
Love Is All You Need
Tem uma do Dean Martin que é genial.
Ele dizia que não acreditava em experiências místicas até o dia em que foi apresentado ao galã carola Pat Boone.
Quando Dean o comprimentou com um aperto de mão, todo o lado direito de seu corpo ficou imediatamente sóbrio.
Caralho! Eh isto. As vezes me pego ai deste lado, ouvindo novos baianos. Sinto como se estivesse a tres passos das pessoas queridas, dois passos de casa, e a um passo de uma cerveja gelada em qualquer boteco, falando portugues. Quando pisco mais uma vez, me vejo em Taiwan. Na total sobriedade de minhas descobertas e angustias. Loucura neh?!
Rhaissa,voce é muito louca meu...
Meu querido, eu sei que dizem por aí que o balão voa mais alto se você jogar aquelas sacolinhas d'areia fora. Sou um cara que tem extrema dificuldade de jogar qualquer papelito fora, lixo... qualquer coisa que tenha um mínimo odorzinho humano...
Vá lá... encha as bochechas e guente o tranco, mesmo que te dê mais trabalho: "a vida é muito curta para esquecer"
Não esqueça nada! Leva seus mastros e naufrágios pra dentro da banheira!
Bonito é pouco, Leo. Esse post ta fodão.
Leo, querido...
Sua sensibilidade é 'tudodibomnessavida'.
Adoro você.
Bjokas da Déia
sensibilidade de curéola
HUAHUAHAUHAUHAUHAUA
doido...
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