“O Cheiro Do Ralo” é só aborrecimento.
Existe uma tradição de mais de 50 anos no cinema paulista em seguir sempre na contramão do cinema produzido no resto do Brasil.
Começou com a patética aventura megalômana do Vera Cruz.
Prosseguiu com os primeiros filmes de Walter Hugo Khouri, realizados nos anos 60.
Khouri tinha a "mania feia" de se "inspirar" em dramas franceses e suecos para tentar achar o tom de seus próprios filmes, mas sintomaticamente só conseguia realizar “filmes alemães ruins”.
Mais tarde, já nos anos 70 e 80, em plena era da pornochanchada, Khouri procurou manter o mesmo tom em seus filmes, e ainda recheá-los com as mais exuberantes mulheres nuas da época. Ficou na mesma. Continuou fazendo “filmes alemães ruins”. Até morrer.
Mais adiante, no início dos anos 80, a dupla José Antonio Garcia e Ícaro Martins tentou promover uma reviravolta no cinema paulista, com “O Olho Mágico do Amor”, mas tudo o que conseguiram foi revitalizar o mercado paulistano de “filmes alemães ruins”. Ainda assim, por pouco tempo. A empreitada, óbvio, murchou rapidamente.
De lá para cá, de tempos em tempos, sempre aparece um novo “filme alemão ruim” produzido em São Paulo -- coisas como “Maldita Coincidência”, de Sérgio Bianchi, ou “Durval Discos”, de Ana Muylaert.
E, por incrível que pareça, até hoje ainda tem gente que comemora o surgimento de filmes assim..
O caso é que pouquíssimos diretores paulistanos conseguiram escapar dessa sina maldita.
Ozualdo Candeias e Carlos Reichenbach, por exemplo, até que fizeram alguns “filmes alemães”, mas alguma coisa saiu errado e o resultado final deles foi muito bom. André Klotzel e Chico Botelho também "falharam", e acertaram na mosca em "Marvada Carne" e "Cidade Oculta".
O único diretor paulista que sempre se recusou a fazer “filmes alemães” foi o saudoso Roberto Santos. Quem viu “Os Amantes da Chuva” sabe do que estou falando. Parece filme francês, de tão bom que é.
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Mas o motivo deste artigo é um embuste cinematográfico chamado “O Cheiro do Ralo”.
Baseado num romance que tem a “envergadura" de uma graphic novel, “O Cheiro do Ralo” está na "boca do povo" não por merecimento, mas graças ao esforço de algumas Assessorias de Imprensa de São Paulo que parecem empenhadas em transformar um mentecapto perigosíssimo chamado Lourenço Mutarelli num grande escritor pop e (ou) herói cult – o que vier primeiro.
O personagem principal do filme se chama Lourenço, como o autor. É um negociante de tranqueiras que recebe diariamente a visita de pessoas muito estranhas vendendo seus pertences, que ele sempre procura comprar pelo menor preço possível. O tédio profissional, unido ao tédio pessoal e afetivo, mais o cheiro de esgoto que emana do ralo do banheiro, acabam por levar o personagem (interpretado por Selton Mello) a enlouquecer gradativamente.
Selton Mello tenta incorporar toques de humor ao filme, conjugando a avareza e a frieza de seu personagem com arremedos de loucura pretensamente engraçados. Mas sempre que faz isso, perde o rumo do personagem, que fica leve demais. Pior: em seguida volta a pegar pesado com o personagem, por exigência do roteiro, e sempre acaba errando o tom. Quem perde com isso é o filme, claro.
Verdade seja dita: um intérprete menos metido a engraçadinho teria obtido resultados muito melhores no papel de Lourenço. Mas, como Selton Mello é também um dos produtores do filme, ele fez o que quis, e ninguém deve ter dito coisa alguma para não contrariá-lo...
Tecnicamente falando, é um filme correto. Tem uma ótima trilha sonora (do grupo Apollo 8). Tem atuações satisfatórias de todo o elenco. Foi praticamente todo rodado em estúdio, em quatro cenários diferentes, e editado com interrupções abruptas nas cenas, o que o torna bastante irritante depois da primeira meia hora.
Mas daí a dizer que “O Cheiro do Ralo” é um bom filme são outros quinhentos.
É, na verdade, apenas mais um “filme alemão ruim”, como tantos outros vindos de Sâo Paulo nos ultimos 40 anos. Segue o tom moralista e fatalista das graphic novels, é cheio de reviravoltas que levam sempre a lugar algum, e é muito, muito chato. Só vai agradar mesmo quem ainda aguenta os filmes de Lars Von Trier. Nâo é o meu caso. Se também não for o seu, já sabe o que fazer...
Eu confesso que sorri aliviado quando, ao sair do cinema, vi o belo poster do filme novo de Phillipe Barcinski – com Rodrigo Santoro e Letícia Sabatella -- no corredor.
Foi como um sopro de vida na minha mente, depois de quase 2 horas intermináveis de “O Cheiro do Ralo”.
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O CHEIRO DO RALO
Cotação: 5 graus Milton
30 Comments:
Meu querido Manuel Mann, com todo o respeito que tenho pelo teu repertório cinematográfico e pelas críticas coerentes que ti vi fazer nesse blog, não posso deixar de manifestar aqui minha indignação! O Cheiro do Ralo é um filme MUITO BOM!
Em primeiro lugar, o toque humorístico que Selton Mello dá ao protagonista Lourenço não empobrece o personagem, ao meu ver. Lourenço não é “engraçadinho”. Sua loucura é muito engraçada, mas não tira o peso do personagem, o cara que prefere pagar para não se envolver com nada nem ninguém – “Com mulher, você bobeou, os convites vão para a gráfica” –, e que, vivendo num ambiente fétido e caótico, se afeiçoa a um olho e se apaixona por uma bunda – paixão essa que o faz confundir a dona da bunda até que ela dê uma viradinha. Eu acho que é justamente o humor negro impresso em Lourenço que deixa o filme ainda mais interessante. E isso não é um argumento de fanzoca do Selton Mello, coisa que não sou. Aliás, na peça de teatro O Zelador, estrelada pelo rapaz, eu o vi se desdobrando pra tornar engraçado um personagem que não cabia no humor. Aí sim, concordaria contigo.
Achei muito bons os diálogos entre Lourenço e os compradores de sua loja de bugigangas, coisa rara nos filmes brasileiros. Também achei Cheiro do Ralo um filme de valor por ser um dos poucos brasileiros sem a pretensão de tratar dos “grandes temas nacionais”, como a pobreza do sertão nordestino, a descoberta/invenção do Brasil, a violência urbana e a ditadura militar, entre outros.
Li muitas críticas sobre o filme, e todas elas divergem – ponto pra ele, unanimidades me deixam cabreira. O Arnaldo Jabor parece concordar comigo: “Pareceu-me que houve uma conjunção rara entre os autores - entre os quais, Selton Mello - que talvez tenha ido além deles mesmos. O filme se fez também sozinho. A diversidade dos atores, o acúmulo de situações trágicas, cômicas e perversas geraram um algo que costumamos chamar de obra-prima.” Com um certo exageiro verborrágico, mas concorda. Você pode acusar o filme de ser logo, mas chato não.
Eu me abstenho de comentar pois sou contra qualquer arte feita com o meu dinheiro sem a minha permissão. E ainda sou obrigado a ouvir a Marilia Gabi Gabriela Reclamando que não há dinheiro pro cinema nacional. Imagina! Ela queria que usassem NOSSO dinheiro pra fazer file com o Gianechini! É por isso que eu continuo com a minha campanha:
"Cinema nacional, pega no meu pau"
É só aborrecimento!
Sem nenhum embasamento: o filme é um saco! Babaquice!! Você dá crédito e vai vendo, e só piora, piora, e vem o óbvio ... e nada ... era aquilo mesmo! LIXO com o dinheiro do Filipe!!!!
Filipe, eu sou adepta da tua campanha. Mas convenhamos que vc mesmo citou naquele post de mesmo título da campanha, o "Cinema Nacional, Pega no Meu Pau" alguns filmes nacionais que eram legais. O Cidade de Deus tava entre eles. Não se trata aqui de fazer campanha pelo incentivo ao cinema nacional nem pelo Gianechini nas telonas. Ok, Cheiro do Ralo não é espetacular. Mas merece um Muito Bom. O legal do filme é aquilo que eu falei, o humor negro, a despretenção de ficar falando dos "grandes temas do país". Ele não quer "chegar a algum lugar", ou "provar alguma coisa". Mas, se é assim, vão em frente! Continuem a oprimir a cultura desse Brasilsão! Vão lá assistir os filmes dos yankees capitalistas hollywoodianos filhos da puta! Vão assistir a morte da nossa tão bela língua portuguesa em detrimento do fucking english dos fast foods!
Ou então a gente pode desencanar de tudo e alugar Borat.
Este comentário foi removido pelo autor.
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eu gostei do cheiro do ralo. tinha escrito uma besteira, por isso deletei esses dois últimos posts, então não fiquem curiosos. bjos
eu gostei do cheiro do ralo. tinha escrito uma besteira, por isso deletei esses dois últimos posts, então não fiquem curiosos. bjos
Gostei do Cheiro do Ralo e acho que só comparar o cinema nacional com o estrangeiro é uma crítica um tanto fraca.
O Cheiro do Ralo se faz valer desde de seu baixíssimo custo até a crueza de sua linguagem. Algumas cenas te remetem direto aos quadrinhos, como quando o Lourenço se masturba, o que é fantástico! Os diálogos são muito bem feitos e a construção do personagem do Selton Mello é igualmente boa.
Tá certo que o sotaque não convence e que há muito de outros personganes que o Selton Mello já fez no Lourenço, mas ainda o acho um puta ator - compare Lourenço com André, de Lavoura Arcaica, por exemplo.
O resto dos atores do filme, uma bosta. Exceto pelo próprio Mutarelli, muito bom também!
Enfim, gostei. Tenho críticas, mas acho que é um bom filme. Quebra muito um padrão de merdas que temos visto por aí e... fim. Recomendo que cheirem, sim, o ralo!
ah sim. e não acho Lourenço nem um pouco louco.
Desculpem, mas continuo achando tanto o filme quanto esse Lourenço Mutarelli (como romancista) altamente duvidosos.
Também não vi nada original nele.
Me parece que foi escrito e dirigido por gente que assistiu a "Mostras Internacionais de CInema de São Paulo" demais.
Muito Leon Cakoff faz mal.
Sensacional o Lourenço se mastubando?? Padrão das merdas que "andamos" vendo???? Quebrar padrão torna o filme bom???? A crítica do Manuel é que foi fraca????????? Baixíssimo custo? Crueza da linguagem???? Lavoura Arcaica é outro filme, né, ninguém falou que o Selton é um merda, mas NESSE filme ..., mas tudo bem, o personagem é que deve ser muito chato de aturar mesmo!!!
Ora, gaia, vá cheirar o ralo de banheiro público!!!!!!!!! Gostou, gostou, tudo bem, deve ter seus motivos (por ex.: ser parente do Selton, produtora do filme, ...), agora ficar indicando pros outros dessa maneira, vais arrumar uns inimigos!!!!!!
Não assisti "O Cheiro do Ralo". Nem gostei, nem desgostei. Deixa eu explicar: "Olga", eu não assisti e não gostei.
Mas na verdade estou (tirando o cabaço) aqui para dizer que, se for para usar meu din din para filmes como "A dama da viola", do Francisco de Paula, fiquem a vontade.
Ou seja, estou meio dentro da campanha do Filipe.
Bueno,
A mi me gusta los filme argentinos.
E tambien los alemanes, Me gusta mucho, mas mucho mismo Lars Von Trier.
Anselmo Duarte. Nascido em Salto (São Paulo), em 21 de abril de 1920. ...
Me gusta mucho saber que Anselmo Duarte é de San Pablo, e hecho un puta filme.
Fernando Meirelles tambien es de San Pablo.
Que tal un poquito mas de informarcion???
Que bairrismo bobo. O pelo que eu entendi, o Manuel Mann não têm problemas com diretores paulistas e sim com filmes ruins.
Para Manuel Mann
[e, deus! quem é et de varginha? ele sabe onde eu moro??]
Pode ser mesmo que o cara tenha assistido a Mostras demais...inclusive o filme tava na última, não tava?
Mas quais são suas críticas sobre elas? [obs.: ao contrário do et, não há qualquer tipo de agressividade neste inocente ponto de interrogação, ok?!]
não vi ainda, mas o selton mello escolhe os filmes pela presença de uma cena de masturbação, né? não é possível!
Então, ficamos assim, paulista é uma merda. O cinema acima de tudo. Vera Cruz, uma bosta. Khoury, O Olho mágico do amor e até Durval Discos, grandes bostas. Provavelmente toda a obra da Carla Camuratti também.
Tá ótimo, certamente bom são os Normais e as Grandes Famílias Globais. Ou melhor, Cinemark & pipoca & refrigerante numa barulhenta sessão do último Batman, Homem Aranha ou Hulk.
Socorro, chamem o lanterninha, pelamordedeus...
"Eu quero pulgas mil na geral, eu quero a geral"
(Alô Alô Taturanas: Aquele abraço")
No ralo do bixeiro tinha dólares!
Será que a/o gaia mora aqui em varginha????? (ponto de interrogação agressivo)
Parafraseando uma frase clássica de Paulo Francis:
"Então ficamos assim: "O Cheiro do Ralo" é uma gracinha, e eu não sou.
Gustavo, pq vc só escreve posts duplos?
como assim?
como assim?
Barstefunia erisdela ia gogo? Fevrantes nia hortuinneas na?
Comdrefinus dert ni bolernas?
TODA RAZÃO É UMA PORCARIA DE FILME QUE SÓ ENGANA ESSAS PESSOAS SEDENTAS POR SER COOL, FILME CHATO COM ESSE SELTON MELLO QUERENDO SER TARANTINO, FILME POBRE DE ORIGINALIDADE DUVIDOSA. FILME NACIONAL É UM DESASTRE TOTAL.
Bom, em primeiro lugar, foda-se o seu conteudo cinematográfico. Se você não tem ideia de quem seja Lourenço Mutarelli, informe-se meu caro, antes de falar merda pseudo-intelectual. E em segundo, a banda da trilha sonora se chama Apollo 9. Sem mais delongas, vai cheirar cueca suja...
tsc tsc...
...
leia o comentário acima
...
Filme muito bom, se não gostou assista de novo se ainda não gostar, entorpeça-se e veja de novo, se ainda não gostar vai fazer aeróbica com a Samanta Rose e ver se da perninha, beleza? aaeeeeeeeeeee!!!
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