sábado, 9 de junho de 2007

12 Perguntas para Ivan Lessa (por Sylvia Colombo, FOLHA - 9 de Junho de 2007)


FOLHA - A segunda parte da "Antologia" cobre os anos de 72 e 73. Segundo a edição, essa teria sido a fase mais interessante do "Pasquim". E também a sua. Como andava seu ânimo profissional? E político?

IVAN LESSA - Sim, minha participação foi mesmo mais ativa. Mas a explicação é simples. Morava em Londres até 72, quando voltei para o Brasil e passei a trabalhar diariamente no "Pasquim". Meu ânimo profissional ia bem, obrigado. Tive outras ofertas mais tentadoras em termos de salário. Mas, no "Pasquim", na época vendendo pouco e em crise, eu estava entre velhos amigos. Ânimo político? Nunca tive, não tenho.

FOLHA - Como você selecionava as cartas a serem respondidas? Quantas você inventava? Depois que os leitores entraram no espírito da seção, ficou mais difícil?

LESSA - Eu pedia para a dona Nelma [secretária do jornal] a vasta pasta com as cartas. Tirava um punhado. Selecionava as que pareciam mais interessantes. Ou mais idiotas, se você preferir. E inventava apenas as obviamente inventadas. E a proporção é bem menor do que pensam. Ou dizem. Depois de um certo tempo, os leitores mais vivos entraram no espírito da coisa. Aí, é claro, ficou mais difícil. Dependia muito também de como andava minha paisagem interior. Sim, eu tenho uma paisagem interior, que anda, marcha, pula, isso tudo.

FOLHA - Entre os gêneros que você criou no jornal, as cartas inventadas, as falsas notícias comentadas e o horóscopo, de quais gostava mais?

LESSA - O que eu mais gostava de fazer mesmo era o "Pasquim Novela". O resto do que você menciona era ou muito triste ou muito chato. Não me lembro de falsas notícias. Toda notícia é, por definição, falsa. Ou farsa. Por aí.

FOLHA - E as que tinham subtexto contra a ditadura (sobre Papa Doc, a Inquisição ou Perón)?

LESSA - Era para poder falar de nós falando dos outros. É a única vantagem da censura: obrigar o cidadão a exercer as disciplinas das entrelinhas, das alegorias, das insinuações.

FOLHA - Como funcionava a relação com os chargistas na seção "Gip, Gip, Nheco, Nheco"?

LESSA - Eu escrevia os "gips" e eles "nhecavam". Em muitos eu tinha uma idéia ou sugestão para a ilustração. Mas muitas das frases davam para se agüentar em seus próprios pés. Acho.

FOLHA - Acredita que as pessoas vejam o "Pasquim" hoje com demasiada nostalgia?

LESSA - O "Pasquim" acabou. Para o bem ou para o mal.

FOLHA - Em entrevista à Folha, Jaguar disse que o jornal viveu mais do que deveria. Você concorda?

LESSA - Concordo. O "Pasquim" deveria ter acabado logo depois que começaram a botar azeitonas adoidadas em empadas alopradas.

FOLHA - Você acha que o "Pasquim" de fato revolucionou o jornalismo brasileiro?

LESSA - É, o jornaleco tirou as aspas da língua brasileira. Na medida do possível. Os outros méritos estão com todos os que escreveram ou desenharam ou tentaram uma contabilidade honesta com a publicação -chato ficar repetindo "Pasquim" ou "jornaleco", passemos então para os chavões.

FOLHA - Você lê jornais brasileiros? Acha que estão melhores ou piores do que na época da ditadura?

LESSA - Passo os olhos eletrônicos neles. Continuam ruins como sempre. Loas para tudo que contribua para desencorajar um brasileiro, ou brasileira, a praticar o (risos) jornalismo.

FOLHA - As pessoas ficam intrigadas com o fato de você ter partido para Londres e praticamente nunca mais ter voltado. Você sentiu necessidade de romper com o Brasil?

LESSA - Não senti necessidade. Apenas uma baita de uma vontade de me mandar e só voltar em caso de muita, mas muita emergência mesmo.

FOLHA - Você se diverte com os jornais sensacionalistas?

LESSA - Acompanhar os tablóides chega a ser engraçado. Mas há muita coisa para ler, para ver na TV, muito pato para se alimentar no laguinho dos parques. Eu confesso que só vejo a primeira página nas bancas, que é o quanto basta. Ninguém os leva a sério. Principalmente os que fazem os tablóides. Aí até que dá para fazer uma ponte com o "Pasquim".

FOLHA - Num dos artigos você diz que o mundo se divide entre as pessoas que dizem "ôba" e as que dizem "êpa". Onde você se enquadra nessa classificação.

LESSA - Êpa! O passar dos anos, a passagem dos ôbas...

LESSA - Sei que não teve uma pergunta treze. Mas sou supersticioso e aqui está a prova.