quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Sapateia “muié” feia!

Eu me sinto a "muié" feia, aquela que sapateia. Não sei o que as pessoas querem dizer exatamente com isso, mas tenho cá uma interpretação.
A muié feia (não porei mais aspas) sapateia pra chamar a atenção pra si. Ela não pode ficar à margem da sociedade, e não quer. Luta desesperadamente para sobreviver, qual um peixe que tenta voltar pro aquário. Ela é feia. Ponto. E faz papel de ridículo com o seu bailado tresloucado.
A vida é dura assim mesmo. Eu sou a muié feia. E isso não tem nada a ver com preferência sexual. O meu sapateado é intelectual, eu descobri tarde demais que não era um gênio. Sempre estive cercado de ignorantes errantes, saltitantes e felizes que me colocavam num trono de arrogância e empáfia. Mas, claro, eu era magnânimo. Tratava a todos esses “seres inferiores” com tanta bondade, que alguns me julgavam trouxa.
E como eu era trouxa!
Enfim, o tempo passou e eu fiquei parado que nem a “Carolina” do Caetano. Agora, fico tentando recuperar o tempo perdido e, claro, fazendo papel de ridículo.
Segunda-feira dia 23, saí cedo do trampo e resolvi assistir um filme da trigésima mostra internacional de cinema. Imaginava as pessoas me perguntando.”Onde você vai?” e eu respondendo “Estou indo assistir a uma obra de arte. Um filme holandês da Mostra”. É claro que ninguém me perguntou nada. Então eu tive que ficar incomodando todos à minha volta: “Você sabe que filme vai passar hoje na Mostra?” ou “Mas esse site da Mostra está muito mal feito, você não acha?” ou ainda “Você já viu algum filme da Mostra hoje? Estou pensando em assistir o daquele diretor holandês... como é mesmo o nome dele?”
Como eu sou trouxa!
Cheguei cedo na galeria ali na Augusta e, lógico, comprei a programação da Mostra. Nenhuma lembrancinha, que isso é coisa de gente deslumbrada. Bati cabeça pra achar o ponto de venda dos ingressos do Cine Bombril. Tentei comprar num guichê pintado com as cores da Mostra, mas o feedback foi desconcertante. “Os ingressos são vendidos nas bilheterias do cinema, Senhor”. Trepliquei, no ato: “Eu já sabia. Só estava testando a organização da Mostra”. Nem vou mencionar o episódio com o meu cartão de débito ou com o café que eu ia tomar antes do filme. Vamos cortar para dentro da sala de cinema.
Depois de alguns minutos dispensados para a acomodação das pessoas, uma moça agradeceu a presença de todos e apresentou o diretor Laurence Lamers do filme Paid que iríamos assistir. Com a palavra, Laurence falou que estava honrado em apresentar seu filme aqui no Brasil e poder trabalhar com esse ator maravilhoso que é o Murilo Benício. Esse mesmo, o clone da novela das oito. Minha vontade era gritar: “Não é esse filme não. Eu me enganei. Eu vim assistir a um filme holandês. Cadê o filme holandês? Eu quero o filme holandês. Ho – lan – dês!”.
É claro que estou sendo injusto com o Murilo. O Juca Cipó era legal. Mas não estou aqui pra falar bem de ninguém. O filme era mesmo uma merda. Tão grande que ninguém sequer teve a coragem de falar com o diretor depois do filme. E olha que ele havia dito no começo que estaria à disposição de quem quisesse conversar, fazer perguntas e tudo o mais. Esse ainda não descobriu que não é um gênio.
Sapateia, muié feia!

3 Comments:

Blogger Taturana Pai said...

Ah, Daniel, perfeito. Era a expressão que eu procurava pra quando encontrar alguma figura do tipo Marilena do Oiapoque ao Chauí. Ou Gabriel Chalita:

- Seu Gabriel! Ô, seu Gabriel!
- Pois não?
- SAPATEIA MUIÉ FEIA!!

- Dona Marilena! Ei, Dona Marilena!
- Sim?
- SAPATEIA MUIÉ FEIA!!

Bobeou, vira até marchinha de carnaval, não?

4:16 PM  
Anonymous Anônimo said...

Também serve aqui ó:

- Murilo! Ô, Murilo!
- Oi?
- Oi? (pra não perder a oportunidade)
- Diga.
- SAPATEIA MUIÉ FEIA!!

6:30 PM  
Anonymous Anônimo said...

Benício lembra alguém?

11:10 AM  

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