terça-feira, 24 de outubro de 2006

Vende-se Brasília usada

O brasileiro é um consumidor exemplar. Além de contar com um moderno e prático código do consumidor, é um conhecedor exímio deste conjuntinho de leis. Basta lembrar das donas de casa em filas de supermercado clamando pelo ‘super’ Procon ao se deparar com irregularidades na gôndola. O órgão responsável por manter sempre imaculado o nosso código, fiscalizando as empresas e aplicando as penas necessárias com bom senso, é um dos mais eficientes organismos públicos existentes no Brasil.

Fomos muito bem treinados para sermos os melhores consumidores do mundo. E somos. Essa intimidade que o brasileiro mantém com o código de defesa do consumidor é um exemplo que, infelizmente, não é seguido quando se fala em cidadania – essa palavra que jorra aos borbotões durante as eleições, na maioria das vezes da boca de políticos demagogos.

O brasileiro não sabe ser cidadão. Ele não conhece seus deveres e, muito menos, os seus direitos. Um exemplo é que quase ninguém sabe que tem direito a receber uma quantia em dinheiro quando sofre um acidente de trânsito e se fere (não importa se é pedestre, motorista ou passageiro do veículo acidentado). Esse direito vem do dever que tem o cidadão proprietário de veículo automotor de pagar, junto com o licenciamento e o IPVA, o seguro obrigatório. Por desconhecimento, o seguro obrigatório raramente é utilizado. É uma mixaria, mas é direito de qualquer cidadão.

Essa incompetência para ser cidadão é fruto de uma estupidez primária do brasileiro que gosta de levar vantagem em tudo. Porque ele tem consciência de que, se não andar na linha como consumidor, não vai ter como exigir direitos mais tarde.

O que diferencia o consumidor do cidadão é, basicamente, que o primeiro sabe bem pra onde vai o seu dinheiro. O cidadão, não. Não sabe, e parece não querer saber, porque isso não tem influência nem importância direta (pior que tem, mas eles pensam que não). O que prova esta tese é a apatia da população na fila de um hospital público (sim, eu os uso), esperando horas para ser atendido por um médico incompetente que mal vai encostar no paciente. Um cidadão com o mínimo de bom senso se irritaria facilmente. Quando esse mesmo cidadão vira consumidor na fila do banco, aí sim, exige e reclama com propriedade.

Quando as teles eram empresas estatais e grandes cabides de emprego, o brasileiro passava cinco dias em uma fila para poder comprar, a peso de ouro, uma linha telefônica pelos famosos planos de expansão. Linha esta que poderia demorar anos até ser instalada. Tudo isso, sem nenhuma reclamação. Agora ele é consumidor, que tem liberdade de escolher a empresa de telefonia que melhor lhe atender, que possui um órgão que o protege contra os abusos, que existem mas seriam uma bênção há 20 anos se fosse só isso. Isto tudo faz pensar que a saída mais inteligente não seria apenas privatizar as empresas estatais. Talvez seria melhor privatizarmos os ministérios, o planalto. Vamos privatizar logo o presidente! Com Brasília privatizada o brasileiro, como consumidor, saberia melhor, como, onde e quando cobrar os seus direitos.

3 Comments:

Blogger Olivia said...

adorei o post.
e concordo com tudo

6:09 PM  
Anonymous Anônimo said...

Palmas que ele merece! É isso aí Leão!!

11:38 PM  
Blogger Taturana Pai said...

Boa! Brasília for sale. O problema é achar quem vai assumir o passivo (opa!) daquela massa falida...

4:46 PM  

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