domingo, 29 de outubro de 2006

Uma noite inesquecível


Como sempre, largando em último e chegando em primeiro, o grande Herbie se apresentou no auditório do Ibirapuera na sexta-feira e eu estava lá pra conferir. Dois shows antecederam ao de Herbie, mas eu sou como político em debate, só falo com quem e sobre quem dá ibope. Como nunca ouvira falar antes de Stephand Bollani e Ahmad Jamal, vamos direto ao monstro sagrado do jazz Herbie Hancock.
Logo de cara, o mito fez uma homenagem a outro grande tecladista, o revolucionário Ross Geller do grupo “Friends”. Com seu sintetizador wireless, inovou ao buscar a riqueza dos timbres da década de 80. Mimetizando com perfeição o mundo submarino, Herbie, como Ross, fez coro aos grandes mamíferos do oceano e chamou a atenção do público para a questão ecológica. Só com a primeira música eu já estaria satisfeito, mas Herbie não parou por aí. Hipnótico, levou o público a dormir e experimentar o mundo dos sonhos, numa viagem lúdica ao subconsciente. Num dado momento, quando a platéia havia sido conduzida ao estado de alfa, a baterista “Lulinha”, com seus braços “tentaculares”, usou a máquina de chimbal para fazer uma analogia ao cotidiano e produziu o som estridente de um despertador, trazendo novamente os espectadores para a realidade. O contra-baixista Wal, exímio dançarino, mostrou muito swing. Também é digno de nota o fato do saxofonista ser especial, mostrando o lado humano de Herbie, já que o lado “fusca”, todos já conheciam.
O auge do espetáculo foi quando o irreverente Herbie Hancock e seu grupo fantástico levaram o auditório inteiro à convulsão seguida de um estado de transe. Foi difícil sair daquela sala, e está difícil parar de escrever. Acho que só o tempo me trará a maturidade necessária para assimilar o que ouvi e o que senti. Meus ossos doíam e minha alma gozava. Pra tentar resolver tudo em uma palavra: comoção. Não. Mágica. Não, peraí... Surreal. Ah, deixa pra lá. Ninguém vai entender mesmo. Só quem estava naquele auditório, naquela noite.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Sapateia “muié” feia!

Eu me sinto a "muié" feia, aquela que sapateia. Não sei o que as pessoas querem dizer exatamente com isso, mas tenho cá uma interpretação.
A muié feia (não porei mais aspas) sapateia pra chamar a atenção pra si. Ela não pode ficar à margem da sociedade, e não quer. Luta desesperadamente para sobreviver, qual um peixe que tenta voltar pro aquário. Ela é feia. Ponto. E faz papel de ridículo com o seu bailado tresloucado.
A vida é dura assim mesmo. Eu sou a muié feia. E isso não tem nada a ver com preferência sexual. O meu sapateado é intelectual, eu descobri tarde demais que não era um gênio. Sempre estive cercado de ignorantes errantes, saltitantes e felizes que me colocavam num trono de arrogância e empáfia. Mas, claro, eu era magnânimo. Tratava a todos esses “seres inferiores” com tanta bondade, que alguns me julgavam trouxa.
E como eu era trouxa!
Enfim, o tempo passou e eu fiquei parado que nem a “Carolina” do Caetano. Agora, fico tentando recuperar o tempo perdido e, claro, fazendo papel de ridículo.
Segunda-feira dia 23, saí cedo do trampo e resolvi assistir um filme da trigésima mostra internacional de cinema. Imaginava as pessoas me perguntando.”Onde você vai?” e eu respondendo “Estou indo assistir a uma obra de arte. Um filme holandês da Mostra”. É claro que ninguém me perguntou nada. Então eu tive que ficar incomodando todos à minha volta: “Você sabe que filme vai passar hoje na Mostra?” ou “Mas esse site da Mostra está muito mal feito, você não acha?” ou ainda “Você já viu algum filme da Mostra hoje? Estou pensando em assistir o daquele diretor holandês... como é mesmo o nome dele?”
Como eu sou trouxa!
Cheguei cedo na galeria ali na Augusta e, lógico, comprei a programação da Mostra. Nenhuma lembrancinha, que isso é coisa de gente deslumbrada. Bati cabeça pra achar o ponto de venda dos ingressos do Cine Bombril. Tentei comprar num guichê pintado com as cores da Mostra, mas o feedback foi desconcertante. “Os ingressos são vendidos nas bilheterias do cinema, Senhor”. Trepliquei, no ato: “Eu já sabia. Só estava testando a organização da Mostra”. Nem vou mencionar o episódio com o meu cartão de débito ou com o café que eu ia tomar antes do filme. Vamos cortar para dentro da sala de cinema.
Depois de alguns minutos dispensados para a acomodação das pessoas, uma moça agradeceu a presença de todos e apresentou o diretor Laurence Lamers do filme Paid que iríamos assistir. Com a palavra, Laurence falou que estava honrado em apresentar seu filme aqui no Brasil e poder trabalhar com esse ator maravilhoso que é o Murilo Benício. Esse mesmo, o clone da novela das oito. Minha vontade era gritar: “Não é esse filme não. Eu me enganei. Eu vim assistir a um filme holandês. Cadê o filme holandês? Eu quero o filme holandês. Ho – lan – dês!”.
É claro que estou sendo injusto com o Murilo. O Juca Cipó era legal. Mas não estou aqui pra falar bem de ninguém. O filme era mesmo uma merda. Tão grande que ninguém sequer teve a coragem de falar com o diretor depois do filme. E olha que ele havia dito no começo que estaria à disposição de quem quisesse conversar, fazer perguntas e tudo o mais. Esse ainda não descobriu que não é um gênio.
Sapateia, muié feia!

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Vende-se Brasília usada

O brasileiro é um consumidor exemplar. Além de contar com um moderno e prático código do consumidor, é um conhecedor exímio deste conjuntinho de leis. Basta lembrar das donas de casa em filas de supermercado clamando pelo ‘super’ Procon ao se deparar com irregularidades na gôndola. O órgão responsável por manter sempre imaculado o nosso código, fiscalizando as empresas e aplicando as penas necessárias com bom senso, é um dos mais eficientes organismos públicos existentes no Brasil.

Fomos muito bem treinados para sermos os melhores consumidores do mundo. E somos. Essa intimidade que o brasileiro mantém com o código de defesa do consumidor é um exemplo que, infelizmente, não é seguido quando se fala em cidadania – essa palavra que jorra aos borbotões durante as eleições, na maioria das vezes da boca de políticos demagogos.

O brasileiro não sabe ser cidadão. Ele não conhece seus deveres e, muito menos, os seus direitos. Um exemplo é que quase ninguém sabe que tem direito a receber uma quantia em dinheiro quando sofre um acidente de trânsito e se fere (não importa se é pedestre, motorista ou passageiro do veículo acidentado). Esse direito vem do dever que tem o cidadão proprietário de veículo automotor de pagar, junto com o licenciamento e o IPVA, o seguro obrigatório. Por desconhecimento, o seguro obrigatório raramente é utilizado. É uma mixaria, mas é direito de qualquer cidadão.

Essa incompetência para ser cidadão é fruto de uma estupidez primária do brasileiro que gosta de levar vantagem em tudo. Porque ele tem consciência de que, se não andar na linha como consumidor, não vai ter como exigir direitos mais tarde.

O que diferencia o consumidor do cidadão é, basicamente, que o primeiro sabe bem pra onde vai o seu dinheiro. O cidadão, não. Não sabe, e parece não querer saber, porque isso não tem influência nem importância direta (pior que tem, mas eles pensam que não). O que prova esta tese é a apatia da população na fila de um hospital público (sim, eu os uso), esperando horas para ser atendido por um médico incompetente que mal vai encostar no paciente. Um cidadão com o mínimo de bom senso se irritaria facilmente. Quando esse mesmo cidadão vira consumidor na fila do banco, aí sim, exige e reclama com propriedade.

Quando as teles eram empresas estatais e grandes cabides de emprego, o brasileiro passava cinco dias em uma fila para poder comprar, a peso de ouro, uma linha telefônica pelos famosos planos de expansão. Linha esta que poderia demorar anos até ser instalada. Tudo isso, sem nenhuma reclamação. Agora ele é consumidor, que tem liberdade de escolher a empresa de telefonia que melhor lhe atender, que possui um órgão que o protege contra os abusos, que existem mas seriam uma bênção há 20 anos se fosse só isso. Isto tudo faz pensar que a saída mais inteligente não seria apenas privatizar as empresas estatais. Talvez seria melhor privatizarmos os ministérios, o planalto. Vamos privatizar logo o presidente! Com Brasília privatizada o brasileiro, como consumidor, saberia melhor, como, onde e quando cobrar os seus direitos.

Mal entendidos


"Happyness is a Warm Gun" não significa que o cara gosta de cicletes quentes.

Umas observaçoes sobre o texto acima (abaixo)

-Xuxu ou chuchu?
Ache xuxu mais a cara do Alckimin. Uma coisa meio Chalita (o cara da educação), sei lá...

-Alckimim ou Alkimin?
Foda-se.

Chalita ou Xalita?
Clítoris ou clitóris?

Enfim, se o nosso maior líder assassina a concordância sem a mínima vergonha, quem sou eu pra me preocupar com o já extinto Português.
Mas como ainda tenho minhas manias, faço público meu pedido para que o Luigi (nosso editor) corrija e me mande sugestões por e-mail que eu arrumo assim que possível.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

XUXU VAI TOMAR NO C...


Sem me prender às falcatruas e xirimbambas jurídicas do nosso querido presidente Luiz Inácio, tentarei dizer porque escolhi o candidato que escolhi.

Com uma coisa todos concordam: a vida política não é das mais cândidas. Uma grande parte do congresso está lá para conseguir vantagens - seja grana, imunidade, lobby ou "puderrr".

Mas não nos prendamos ao congresso. Quem já precisou de um funcionário público (sem contar os do poupa tempo) sabe o que a estabilidade no emprego causa. Uma pessoa que tem a tranqüilidade de não ser mandada embora dificilmente será uma pessoa eficiente (ainda mais no país do "meu pirão primeiro"). Imagine-se num dia de ressaca numa segunda-feira com o saco na lua chegando no trabalho. Aquele trabalhinho burocrático te esperando... Até o mais CDF dos CDF's deixaria as coisas pra amanhã, depois, depois de depois... A estabilidade só tem sentido numa constituição traumatizada como a nossa. Porque pessoas que trabalham em qualquer empresa estão sujeitas a mudanças de diretoria ou de presidência. Por quê o funcionário público não? Porque eu tenho que pagar por um funcionário protegido se EU mesmo não tenho essa proteção?

Pois então. Se todos concordam que o Estado é ineficiente, corrupto e burocrático, porque somos contra as privatizações?

PRIVATIZAÇÃO! O palavrão da moda! O Lula diz que privatização é "coisa do mal"! Quer dizer então que é melhor o governo administrar nosso dinheiro?

Menos estado, mais livre iniciativa. Isso se chama liberalismo. Sou neoliberal sim. Muita gente nem sabe o que é liberalismo. Mas odeia o FHC porque é neoliberal. O PT, como sempre, fez uma ótima propaganda de endemonização da palavra. Aliás a esquerda é craque nisso. Veja o Wilson Simonal: ficou no ostracismo menos pelo que realmente fez, mais por patrulha ideológica estúpida. A boa e velha patrulha ainda está no ar. O que eu mais ouço por aí é que político é tudo igual, que é tudo ladrão. Aí você concorda e fala: então vamos tirar as empresas da mão dos políticos. Aí o cara fala: tá louco? Vender o Brasil!? Dilapidar o patrimônio!?
Peraí. Não entendo. Dilapidar o patrimônio é deixar empresas darem lucro e pagarem impostos? Ou pagar 40% de carga tributária e não enxergar nenhum de retorno?
Dilapidar o patrimônio é manter as empresas na mão de um governo ineficiente, corrupto e burocrático. Dilapidar o patrimônio é continuar pagando por empresas que não tem compromisso com o lucro pois o estado vai sempre estar lá amamentando os seus queridos mamutes.
O Alckimin diz que é contra a privatização. Por isso eu voto nele. Político é tudo igual. Eu sei que ele tá mentindo.

O PT tem uma aura de "pai dos pobres". A gente já não viu esse filme? Populismo é coisa antiga. Mas o que me assusta é que tem gente bem informada que conhece o mínimo de história que está caindo nessa conversa mole. O que o PT e o PSDB investiram em projetos sociais é equivalente (não é chute, é pesquisa em várias fontes inclusive sites do governo e revistas com visões diametralmente opostas), mas o PT vestiu a camisa de que alimentou o povo. Ora, o que alimentou o povo foi a estabilidade. O que alimentou o povo foram 4 anos de paz econômica mundial. E os projetos sociais de ambos os partidos.

As reformas da previdência, tributária já estavam em pauta há mais de oito anos. Mas só p PT as aprovou. Agora eu me pergunto: porque o mesmo PT barrou as mesmas reformas (com mudanças insignificantes) quando era oposição? Isso é um partido que quer o bem do Brasil?

Aumentar o salário mínimo é lindo. Mas a previdência é uma bomba relógio prestes a explodir. Se a gente ignorá-la hoje, vamos ter sérios problemas num futuro próximo. É meio que nem o efeito estufa. Cedo ou tarde a gente vai ter que encarar. Mas nosso presidente quer ajudar os pobres. E quem é contra o aumento do salário mínimo também é "do mal". E assim a gente vai indo. Até a bomba explodir.


CORRUPCÃO:
Essa nem Freud explica...


Voto no Alckimin por que o PSDB é liberal e o PT é estatal. O PT tem o pior da direita (corrupção, política monetária conservadora, populismo, uma quedinha pro totalitarismo) e o pior da esquerda (corrupção, estado forte, populismo, uma quedinha pro totalitarismo)
É por isso que meu voto é Alckimin. Não é por paixão (afinal é difícil se apaixonar pelo Xuxu). Paixão e mitologia fazem mal ao voto.

Além disso Xuxu é uma rima ótima para o caso dele fazer merda.

Nao sai nada


Banheiro também serve pra escrever.
Sexta-feira, 22:37h, eu entro patinando em casa e fecho a porta do banheiro com estrondo depois de me sentar no vaso. Abro a Piauí (o Luigi disse que é boa) que trazia comigo e tento me concentrar, quando a porta abre com mais estardalhaço ainda. Era minha mulher:
- É assim que você chega em casa? Nem dá boa noite e já vai batendo as portas. A vizinha vai reclamar. Qual é a sua?
- Não enche. Entrei correndo porque tava enfezado. A porta escapou da minha mão. A vizinha que se foda. Num tá vendo que eu tô lendo? Tenho que escrever no Blog, senão vou ser demitido. Mas assim não sai nada.
A Bruna começa a chorar na sala.

Sábado, 8:03h. Pego a Piauí e vou pro banheiro. Leio sobre a Molvânia e me cago de rir. Só rindo mesmo. Por mais que eu me esforce, não sai nada. Ponho a revista no Bidê (é assim que se escreve?) (sim, no meu apartamento tem Bidê, esse porta trecos (revistas, escovas, secador, cueca suja, KY, chave de fenda) de louça com torneirina auto-limpante) e fico olando para o azulejo grudado na parede a minha frente.
Nossa, que monte de "parênteses"! (é assim o plural dessa merda?) Deve estar tudo errado. Por isso que não sai nada. Mas onde é que eu tava mesmo? Ah, sim. Eu estava olhando pro azulejo. Na verdade, ele é que estava olhando pra mim. Eu só estava devolvendo a encarada como quem diz: "O que é que foi? Nunca viu? Ah, vai se fuder que eu vou tomar café."
Vou pra cozinha e coloco a água no fogo. A água no fogo, o fogo no pau, o pau no cachorro, o cachorro no gato, o gato no rato, o rato na aranha...

(...)

- Amôôôôôôr! Eu pus a água no fogoooo!
- Deixa eu dormir. Não enche o saco!
Piauí é o caralho! Cadê a Playboy? Puta que pariu! Não tem Playboy nem canal de sacanagem. Mas, pensando bem, aquele azulejo...

(...)

Sprufki Doh Craszko? (Que cheiro ruim é esse?) (em malvanês). E mais parênteses.
A água!

Sábado, 14:30h. Chego para o ensaio dos "Los Taturanas". Claro! A Piauí de novo. em cima da mesa.
- Posso usar o banheiro?
Não sai nada.

Domingo, 16:32h, no aniversário da Natália. 17:02 na reunião do Mackenzie (foda-se! não vou explicar). 18:30, no aniversário da Natália... nada! Nem uma palavra.

Hoje, segunda-feira, agora. Tô quase conseguindo escrever um post. Só falta o final. Que legal. O pessoal vai ficar bem contente. Peraí que eu vou no banheiro e já volto pra terminar.

Finais Espetaculares de Piada III



O final espetacular de piada de hoje é:

"- Mas como, presidente?
- Enfiando no cú.
- Tá louca, biba? Tá achando que meu cú é cueca?"



Hahahahahahahahahahahahah!!!!

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Hey Hey, Dee Dee, Take me Back to Piauí


Opa! Vida inteligente na imprensa brasileira! Eu juro que vi! Vocês precisam ler a revista piauí (uh! rimou, sô!).

Quando soube que o projeto da publicação era de João Moreira Salles – aquele cineasta que, entre um documentário retratando todo o charme e a beleza do traficante brasileiro e outro sobre campanha vitoriosa de presidente analfabeto, bancou (afinal o cara é herdeiro do Unibanco) mesada pra bandido escrever livro e se regenerar (obviamente frustradas ambas as tentativas) – fiz muxoxo e pensei: ih, lá vem suburbanada-cabeça, tipo Bravo, Cult e quetais. Enganei-me. A revista é do balacobaco.

piauí (assim mesmo, sem maiúscula) terá como publisher, além do cineasta altruísta, o dono da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, que raramente erra o alvo. Na equipe, Mário Sérgio Conti como diretor de redação, Marcos Sá Correa de comandante anárquico, e um time respeitável de críticos, escritores e jornalistas (a lista é extensa e tenho preguiça de citá-los. Vejam lá).

De cara, uma boa surpresa: a revista mensal não tem editorial (mais uma rima dessas, e eu paro de escrever, juro). Quando que imaginaríamos ter uma revista brasileira sem editorial? Sim, meus caros, seremos poupados daquele festival de clichês-urge-que-a-sociedade-se-imponha-diante-de-tamanho-descalabro-do-poder-público (eu sei, eu sei... vocês, como eu, não lêem editoriais há muito tempo. Mas acredito que eles ainda comecem ou terminem assim, não?).

Tudo indica que a idéia dos caras é a de que a piauí seja a nossa The New Yorker. Tá, pretensão pouca é bobagem. Mas, vá lá, o formato gráfico tem charme semelhante e as matérias, seguindo o modelo da inspiradora americana, fogem do beletrismo e do academicismo de abotoaduras que encharcam nossas publicações culturais. Aliás, piauí – regozijai-vos – não é uma revista “cultural”. Tem de tudo: medicina, beleza, esporte, televisão, cultura (humpf!), religião, política, turismo, urbanismo, etc. São artigos extensos, pra quem gosta de ler boas histórias e, provando que Sá Correa sabe o que faz, muito bem editados.

Por que piauí? Com a palavra, os editores, na apresentação da revista na internet: “piauí não tem resposta pra nada. Nem para quem pergunta por que ela se chama piauí”. Sacaram?

Mas o melhor de tudo é o artigo do Ivan Lessa sobre o Rio de Janeiro, depois de vinte e oito anos sem pisar em terra brasilis. Alguém disse (acho que o Sérgio Augusto) que Lessa é o melhor escritor desse nosso Bananão – embora nunca tenha escrito um livro. Pois, sem exagero, acho que esse artigo redime o terrível Ivan da tarefa. Está tudo lá: a velha e boa sacanagem cáustica do nosso melhor escritor londrino, e, desde a morte de Paulo Francis, a melhor crônica sobre a nossa bananeira idolatrada. Salve, salve.

Leiam, leiam...

***

E já que estamos indo de dicas, vejam aqui como o mundo já foi bem menos aborrecido com o Cab Callowey e os Nicholas Brothers.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Papo Cachorro

Continuo tentando adiar o inevitável, como diz o Woody Allen. Corro quase que diariamente uma média de oito mil metros pelas praças que ficam entre os Jardins Europa e América. Me faz muito bem e tal. Mas o melhor é o que vejo pelo caminho. Dondocas bundudas com seus personals trainers, velhinhos e velhinhas com cara de quem nunca fizeram mal a ninguém, “amigos” que me cumprimentam como se me conhecessem há anos, seguranças fazendo minha segurança, sabiás cantadores (ah, minha velha espingarda de chumbo), maritacas fofoqueiras.

***
Vez ou outra, quando me animo a correr nos fins de semana, passo pelo senador Suplicy correndo na mesma velocidade do seu (dele, lá) raciocínio. Ele, “bom dia”. Eu, em bom tom, “bom dia senador”, e quase sussurrando, “Mogadon”. Pra quem não sabe, Mogadon é um remédio tarja preta (tá lá no google) indicado para fadiga, apatia, debilidade e incoordenação motoras, letargia e confusão mental. Então, lá pelos anos noventa, é claro que o Paulo Francis acertou na mosca ao apelidar o Suplicy de Mogadon – o que naturalmente lhe custou alguns processos acionados pelo senador babão. Como sou muito menos corajoso que o Francis, quando passo e digo quase sussurrando “Mogadon”, espero que o senador não me ouça. Afinal, o cara pode ser molenga, mas já foi lutador de boxe. Eu, hein...

***

Mas, divago. O que eu quero contar é a conversa que ouvi hoje de manhã, ao passar correndo por uma das praças dos Jardins. De longe, eu jurei que tive a impressão de que um setter irlandês e um labrador, sentados lado a lado, conversavam animadamente. Diminuí os passos e me aproximei da dupla canina que, de fato, conversava animadamente.

- ... mas, old dog, é obsessão genética, bolinha é obsessão. Vem lá dos nossos ancestrais.

- Acontece que minha teoria é a de que toda nossa dependência deles é por causa da bolinha. Precisamos resistir.

- Tsc, Tsc, esses irlandeses...

- Olha só: podemos caçar, portanto, não precisamos deles pra comer. Devíamos voltar à nossa forma selvagem. Afinal temos tudo pra isso.

- Tá, mas, e a bolinha? Quem joga?

- Pois é, não temos os malditos braços com as pinças... Mas Darwin...

- Que mané Darwin, seu... olha a bolinha!

- Sai que é minha!!


segunda-feira, 2 de outubro de 2006

I'm Just a Tactful Guy

Como vocês sabem, sou avesso à vulgaridade. Então, ontem, quando ficou certa a possibilidade de segundo turno, tive, como sempre, uma reação racional, como deve ser nesses casos: segui calmamente até a janela, abri meu robe de tecido inglês e mandei em brado retumbante:

CHUUUUUUUUUUUPAAAAAA, LUUULAAAAAAAAA!!!!

Cool, não?