quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Versão Brasileira

Tava zapeando a tevê sábado passado e me deparei com o filme dos cowboys viadinhos da montanha Brokeback no Telecine Pipoca, que transmite filmes dublados. Tava rolando um chamego, uma troca de olhares, uns carinhos, até que um deles mexe a boca e o dublador dispara "Arrra, cumpadi, nóis tem qui comprrra uma cabana pra módi nóis morrra junto", com sotaque capial carregado. Pois é, os caras tiveram a manha de dublar o filme com palavras do tipo "muié", bóia", "cumpadi", etc. Certeza que o Herbert Richards tá revirando no túmulo...

Pesquisa

Depois de ler a biografia da Carmen Miranda, fiquei muito entusiasmada para estudar a fundo os grandes artistas da música popular brasileira. Numa de minhas pesquisas descobri uma história super interessante:
Em junho de 1995, o oficce boy Washington finalmente chamou Carla, a menina que vinha olhando havia meses, para sair. Foram no bar tomar uma cerveja. Quando o garçom chegou com a gelada e dois copos, ela ficou nervosa, começou a respirar fundo, olhar muito para a mesa e não dizer coisa com coisa. Foi encher o primeiro copo de cerveja para ela sorver o líquido tão rapidamente que espantaria qualquer veterano de bar. Mais um copo, mais outro e mais outro e a tensão aumentando. Ela foi ficando mais e mais ofegante. Ele lhe perguntou se estava tudo bem e ela disse que sim, que ele não se preocupasse. O nervosismo dela só aumentando, não dava mais para disfarçar. Ele ficando incomodado, ela mal parando quieta na cadeira, puxando os cabelos para os lados, respirando mais rápido e mais fundo ainda... "Tem certeza de que está tudo bem?", Washington perguntou. "Sim! Mas você não vai mandar tirarem essa garrafa daqui?", gritou ela, ao que ele respondeu "temos que acabar de beber primeiro..." mal terminou a frase e Carla agarrou a garrafa com as mão e bebeu no gargalo o que faltava de cerveja. "Não aguento", gritou. Colocou a garrafa no chão, arriou a saia e foi sacolejando e rebolando até o chão.
"Não aguentou e foi ralar", pensou Washinton. Meses depois, compôs o verso "No samba ela gostou do rala rala/ viu a boca da garrafa/ não agüentou e foi ralar" e estourou nas paradas de sucesso com a canção "Na Boquinha da Garrafa". Era o início da antológica banda "É o Tchan", que, segundo a wikipedia, "se tornou conhecida por suas letras de duplo sentido e coreografias lascivas".

(roteiro de Marcella Chartier)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Enfim, uma Festa de Entrega dos Oscars à Prova de Aborrecimentos.



Por menos importante em termos artísticos que a Festa dos Oscars possa ser nos dias de hoje, é sempre difícil para qualquer dependente químico e psicológico da Sétima Arte como eu conseguir resistir à mística, ao charme e até mesmo às idiossincrasias que cercam a Entrega dos Oscars ano após ano.

Eu confesso: por mais que eu tente, não consigo evitar ficar mobilizado por essas deliciosas frivolidades. E pouco importa se os critérios artísticos são altamente duvidosos. O caso é que eu acabo sempre grudado na TV até tarde, de olho nas opiniões (quase) sempre sensatas do Rubens Ewald Filho -- o único comentarista de cinema que entende dos Oscars na TV brasileira -- após cada premiação, sempre vibrando com resultados artisticamente justos, e ficando muito puto com as injustiças.

Nesse ano, haviam indicações bastante claras de que a Festa dos Oscars corria o risco de ser aborrecida. Primeiro porquê nenhum dos filmes indicados demonstrou ter bala na agulha para despertar grandes paixões no público. São, em princípio, apenas filmes bons e discretos, ao contrário do ano passado, que teve participantes muito mais efusivos, mercadologicamente falando. Segundo, porquê escalaram como "Mestre de Cerimônias" a atriz, comediante e ativista lésbica Ellen de Generes.

Eu não gosto do humor de Ellen. Já não gostava 10 anos atrás, quando ela fazia aquela série de TV em que era dona de uma livraria. Gosto menos ainda agora. Naquela época, Ellen ainda tinha a seu favor um certo frescor juvenil, que fazia uma enorme diferença na maneira de defender sua opção sexual. Havia algo de delicadamente ambíguo no personagem que ela fazia, que fornecia a densidade dramática certa para seu tom de comédia.

Hoje, Ellen não tem mais nada disso. Suas piadas disparadas ao longo da Festa do Oscar deste ano, quando não eram forçadas, revelavam um extremo mau gosto – como no comentário que fez sobre Judy Dench, que não estava presente à festa, por "ter ido fazer uma cirurgia de implante de silicone às pressas", para poder concorrer com o decote magnífico ostentado na Festa por sua conterrânea e contemporânea Helen Mirren.

Lésbica por lésbica, continuo preferindo Wooppie Goldberg como "Mestre de Cerimonias". Pelo menos ela consegue provocar gargalhadas. E é uma comediante de verdade. Ellen é -- sem gracinhas -- um pintinho perto dela.

O caso é que por trás da convocação de Ellen para comandar a festa, havia um problema político pendente da Festa dos Oscars do ano passado, quando a Academia se negou a premiar "Brokeback Mountain" como melhor filme. Bichas do mundo inteiro se uniram contra a não-premiação daquele que se transformou numa espécie de "réquiem para os invertidos", e prometeram represálias. Daí, para fazer média com as bibas, os marquetólogos da Academia concluíram que, com uma lésbica assumida no comando da Festa do Oscar, seria possível, com um pouco de diplomacia, reverter essa "saia justa", literalmente falando.

E aparentemente a empreitada deu certo. Tanto que deram um jeito de incluir negros, mexicanos, e até nipônicos entre os concorrentes e premiados, para dar um reforço na estratégia dos marqueteiros. Com isso, conseguiram isolar os fãs ardorosos do casal de "cowboys do babado" das outras "minorias", neutralizando as bichas, que de quebra ainda tiveram que engolir tudo isso a seco – prática que, como todos nós sabemos, elas odeiam fazer.

Mas o caso é que, contrariando as minhas expectativas iniciais, a Festa de Entrega dos Oscars acabou sendo muito menos aborrecida do que poderia ter sido.

A começar pelas atrizes, que -- salvo uma Jodie Foster ou outra -- estavam maravilhosamente bem vestidas, o que é pouco comum na Festa dos Oscars. Parece que os produtores do espetáculo finalmente se tocaram que basta não mandar convites para Cher, Geena Davis, Sissy Spacek e Dolly Parton que todos os outros convidados resolvem se vestir que nem gente civilizada.

Eu confesso que perdi o fôlego quando vi Gwyneth Paltrow, lindíssima, num vestido com um tom meio laranja, meio salmão, que contrastava de forma magnífica com sua pele alva. Lembrei de Nelson Rodrigues, que dizia que a nudez de uma mulher não-bronzeada é sempre mais reveladora. Gwyneth é uma loura para acabar com todas as outras louras. Vê-la tirar aquele vestido deve ser tão intenso quanto estar diante do Santo Graal. Sem Exordil não dá para encarar. Tenho certeza que o salto qualitativo nas canções do Chris Martin para o Coldplay de uns poucos anos para cá se deve à influência dela no dia a dia dele.

(Sou apaixonado por Gwyneth Paltrow, acho que já deu para perceber)

Fiquei também bastante impressionado com o shape magnífico da (agora) opulenta Penélope Cruz, que vestia um modelo também em tons pastéis, aparentemente pesadão, mas que conseguia combinar com uma leveza surpreendente influências hispânicas clássicas com um toque de gala bem modernoso. Todas as vezes que a vi de relance na Festa, absolutamente exuberante, pensei em seu ex-namorado -- o bundinha Tom Cruise -- e fiquei imaginando a musa magnífica que a Cientologia deixou escapar. Com Penélope, eles teriam conseguido arrebanhar toda a América de língua espanhola. Perderam uma chance e tanto de dominar o mundo.

Além disso, adorei ver Meryl Streep e Diane Keaton sorrindo boa parte da noite. As duas são maravilhosas quando sorriem. Meryl principalmente. Ela é totalmente WASP. Um mulherão. Diane também era, até uns poucos anos atrás. Aquele filme com Jack Nicholson, "Something´s Gotta Give", parece ter sido seu último sopro de jovialidade física -- o último elo de ligação de uma personagem sua com a adorável Annie Hall, de Woody Allen. Mas, mesmo assim, é bom saber que ela ainda está por aí, circulando. É uma bela senhora. Ray Charles diria que tanto uma quanto a outra possuem "the brightest smile in town".

Mas, claro, aborrecimentos sempre existem. Até porquê os lobbies da Indústria Cinematográfica não costumam seguir o bom senso a maior parte do tempo. Mas incomodaram muito pouco dessa vez. Gostei muito de ver Alan Arkin premiado pelo adorável "Little Miss Sunshine". Gostei muito também de ver Helen Mirren premiada pelo magnífico "A Rainha". E achei genial finalmente premiarem Martin Scorsese, ainda que por um filme de encomenda -- o certo teria sido premiá-lo por "Bons Companheiros" ou "Cassino", mas, como todos sabemos, Deus não existe, nem mesmo em Hollywood.

Confesso ainda que não consegui entender porquê premiar Jennifer Hudson, de "Dreamgirls". Assim como não entendi porquê premiar Forrest Whitaker. Jennifer Hudson é uma boa cantora iniciante, mas não é atriz, e agora, com esse prêmio, talvez nunca venha a ser, de tão inflada que deve estar no momento. E Forrest Whitaker, com sua imutável expressão de "cry baby", é um dos atores negros mais irritantes de todos os tempos. Nâo aprendeu nada com James Earl Jones ou Paul Winfield. Nâo o perdôo pelo que fez com Charlie Parker em "Bird", filme de Clint Eastwood. Além do mais, é um chato. Seu discurso de agradecimento parecia o discurso de posse de Lula 4 anos atrás, cheio de maneirismos, clichês sentimentalóides e um toque insusportável de pretensa justiça social. Coisa de pobre.

Como sempre, ao final da Festa dos Oscars, todo mundo se deu bem.

Todo mundo menos os realizadores de "Babel", que, na minha maneira de ver, merecia o Oscar de Melhor Filme. Até porquê era o melhor filme. E o mais bonito. E o mais climático. E o mais criativo. E o mais inspirado também. Deixá-lo totalmente para escanteio foi injusto. Mas, fazer o quê? O mesmo aconteceu no ano passado com "Boa Noite e Boa Sorte". E aconteceu no ano retrasado com "Sideways". E vai acontecer de novo no ano que vem com algum outro filme altamente gabaritado. Injustiças assim fazem parte da Festa de Entrega dos Oscars todo ano.

Presumo que o lobby de "Babel" tenha sido muito fraco. Talvez os realizadores tenham confiado demais nos atributos artísticos do filme, e daí subestimaram a necessidade que muitos acadêmicos costumam ter por alguns "afagos" das produções participantes. Basta dizer que o produtor de "Os Infiltrados", que foi o grande vencedor da noite, estava concorrendo com dois filmes -- o outro era "Diamantes de Sangue", com Leo DiCaprio e Jennifer Connely --, e deve ter gasto uma bela fortuna promovendo o filme perante os "acadêmicos", com muitos presentinhos e brindes. Deu no que deu.

Já o lobby de "Dreamgirls" pelo visto não vingou mesmo. Apesar do filme vir com a chancela da poderosíssima Dreamworks, só levou o prêmio de Atriz Codjuvante. Muito pouco, levando-se em consideração que a maravilhosa Beyoncé e suas meninas concorriam com 3 das 5 canções que estavam no páreo de Melhor Canção, e mesmo assim perderam para a chata (e lésbica diehard) Melissa Etheridge, uma imitadora descarada de Bruce Springsteen. Bruce chega a parecer feminino quando posa ao lado dela. Impressionante.

Enfim, teve de tudo nessa 79a Festa dos Oscars. Só não teve paixão. Nenhum dos filmes fez uma campanha muito vigorosa. Talvez tenha sido melhor assim, depois de toda a encrenca que rolou no ano passado, quando premiaram aquele lixo cientológico chamado "Crash", sem dúvida um dos maiores equívocos artísticos que a Academia de Artes e Ciências de Hollywood já cometeu.

No final das contas, valeu a pena ver a trinca Coppola-Spieberg-Lucas recepcionando com as devidas honras o anão de Little Italy, Martin Scorsese, finalmente no palco com um Oscar na mão.

E valeu a pena ver o novo visual de Jack Nicholson, completamente careca e mais exu do que nunca.

E, mais uma vez, valeu pelo deleite visual proporcionado pela beleza estonteante de Gwyneth Paltrow e Penelope Cruz. Por mim, as duas poderiam levar para casa todos os Oscars que quisessem. Aliás, podiam me levar junto também, e eu faria minhas as palavras clássicas de Maurice Chevalier em GIGI: "Thank God For The Little Girls!"

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Vamos Faturar


Os números não mentem. Em 2006 foram despejados nas livrarias brasileiras cerca de 800 novos títulos de auto-ajuda. As vendas desse naco do mercado editorial atingem picos anuais de crescimento que fariam babar a equipe econômica do presidente Didi Mocó, aquele: 12% no ano passado – um espanto num país que cresceu pouco mais que o Haiti em 2006.

Isso sem falar de reedições de clássicos do gênero como o best seller de Dale Carnegie, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, agora na sua qüinquagésima edição. O livro de Carnegie, um fenômeno de vendas há setenta anos, já bateu os 16 milhões de exemplares vendidos em 36 países desse mundão de meu Deus. Um detalhe curioso: em 1955, o velho Dale, talvez com o saco na lua por ter de aturar milhões de amigos e pessoas que influenciou, enfiou um balaço no meio da fuça e tirou o time desse vale de lágrimas, como se dizia.

Lá pela segunda metade do século XIX, o empresário circence P.T. Barnum, inventor do que chamamos hoje de Indústria Cultural, mandou essa: “Nasce um otário a cada minuto”. (Seguindo essa máxima, Barnum morreu bilionário aos 80 anos, em 1891). Se considerarmos o crescimento demográfico de lá pra cá, teríamos hoje algo em torno de cinco otários por minuto. Um verdadeiro maná para quem pretende faturar subestimando a inteligência humana.

Há muito tempo tenho vontade de escrever (e enriquecer com) um livro de auto-ajuda em parceria com meu amigo Fausto Gomes. Falamos sempre da idéia, mas nunca levamos o projeto adiante (aliás, fora uma barraca de secos e molhados numa bienal de arquitetura, nunca levamos adiante projeto algum).

Pois, o que pega, meus irmãos e irmãs em blogue, é faturar no mole escrevendo livros de auto-ajuda. Precisamos parar de gastar tempo e tecla tirando onda de blogueiros, que não dá camisa a ninguém, e começar a faturar uns caraminguás com a asneirice humana que, sabemos, tem crescimento exponencial diário.

Sei que até aqui todos concordam. O problema é achar aquele quase velho clichê do marketing que faz a alegria dos leitores da Você SA: o diferencial do produto.

Depois de muito queimar a mufa em busca de uma solução, fez-se a luz. A idéia é criar uma série de publicações da Editora Só Aborrecimento com o selo Alto-Impacto – uma antítese da auto-ajuda.

O leitor de Alto-Impacto, ao contrário do que ocorre com a auto-ajuda, será tratado como ele realmente é: um verme insignificante que muito provavelmente não será nada na vida além de... um verme insignificante. Será a verdadeira libertação pelo autoconhecimento. Nosso leitor se libertará dos esforços impostos pelos livros auto-ajuda (que insistem em muito, mas, muito, trabalho) e seguirá confiante em sua jornada gloriosa em frente à TV, comendo cheetos, bebendo Baré-Cola e cagando para os vencedores.

Sacaram o diferencial? Então, amiguinhos, mãos à obra.

A seguir, quatro sugestões de títulos para nossa promissora editora:


Não se Iluda – Você é um Bosta
Sete chaves para descobrir seu verdadeiro eu (eu não. Você, sua besta).

Nada Acontece Conforme o Desejado
Acredite: o fracasso é a única coisa que funciona segundo se espera. O resto é acidental.

Ninguém quer Mexer no seu Queijo
Conheça os rastros de fungos e bactérias que você deixará depois da sua vida inútil

Você é o que Você Rasteja
Mergulhe no mundo mágico da biologia e saiba porque um protozoário tem uma vida mais excitante do que a sua

Sincero Franco

Este é o tipo de coisa que faz falta no noticiário brasileiro.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Dica

Já ouviram falar do Pandora? Não a dona da caixa, é um site: http://www.pandora.com/. Muito legal pra quem gosta de trabalhar ouvindo uma musiquinha sem ter que ficar programando play lists. No pandora você cria "estações de rádio" a partir do nome de um artista ou de uma música. Se você escolhe, por exemplo, Cole Porter, ele toca músicas dele ou de músicos que tenham algo a ver com ele. E você pode clicar no "why are you playing this song" e ele te explica a relação que fez entre o Cole Porter e a música que está tocando. Você também pode ir afinando sua rádio, dizendo que adorou tal música ou não gostou tanto de outra. E mais: se gostar muito de alguma música, pode clicar e comprar o CD pela Amazon. O site é inglês mas tem um repertório brasileiro considerável.

Vejam lá!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Antes Que Perguntem Novamente

1. Os colaboradores que não estão aparecendo no canto direito do blog têm que se cadastrar no New Blogger. Para isso, é só seguir as instruções da página inicial. Qualquer dúvida deixem um comentário aqui.

2. Não será permitido o uso de aparelhos celulares neste blog a partir do dia 16/03.

3. Fica proibida a circulação de animais nas áreas comuns do blog (a não ser que o mesmo seja colaborador).

4. Nunca, em hipótese alguma, deverá ser usada a palavra XXXXXXXXX.
(palavra retirada pela direção).

5. Aquele que contribuir regularmente, será recebido por 125 virgens na entrada do Paraíso (esquina da Paulista com a 23).

6. Doravante está permitido o uso da palavra "CHAVE" e da expressão "CORPORAL".

7. Sete são quatorze com mais sete vinte e um. Tenho sete namorados mais não gosto de nenhum.

8. A Escala Milton de Aborrecimento é a escala ÚNICA e OFICIAL a ser usada pelos integrantes do Blog.

9. Quem quiser ser colaborador, mande um e-mail
com um texto, uma foto 3x4 e 10.180,00 Euros para filipetm@hotmail.com


Original do Estatuto do Aborrecimento
encontrado em ruinas do Iraque

Ter mãe é parricídio e paraíso

Desde que tive minha filha, a única menina dos quatro, sonhava com o dia em que ela me perguntaria sobre os "mistérios da vida". Ficava imaginando que seria um dia chuvoso em que ela chegaria cheia de dúvidas e eu poderia mostrar que, além de mãe, sou amiga e ela pode contar comigo para perguntar qualquer coisa, sem censuras. Finalmente, numa manhã nublada, eu tinha acabado de pedir à empregada que servisse o café e minha filha, aos 13 anos, desceu as escadas com uma cara diferente. Senti que meu sonho de ter aquela conversa sobre os "mistérios da vida" estava prestes a se realizar.

- Mamãe, posso te perguntar uma coisa?
- Claro, minha filha! Qualquer coisa que você quiser!
- Sabe... eu tenho algumas dúvidas...
- É natural, meu amor, pode perguntar qualquer coisa que a mamãe responde.

Nesse momento, já sentindo a glória de ser mãe pulsar nas minhas veias, pedi à empregada para esperar um pouco antes de servir o café e fechei a porta, para ter mais privacidade com minha filhota.

- Bem, mamãe...
- Sim, minha princesa.
- O que que é folclore?
- Q QUÊ?????
- É, sabe, eu nunca entendi direito o que é folclore...
- COMO ASSIM "O QUE É FOLCLORE"???? VOCÊ ENLOUQUECEU, MENINA???
- Desculpe, mãe, não quis te aborrecer...
- Onde é que já se viu me perguntar uma coisa dessas!? Vai perguntar pro seu pai! Neusa, traz o café!... COM LEITE!

A Argila como veículo de auto-conhecimento, criatividade e expressão

O curso pretende levar ao participante o contato com a argila na forma mais pura e tátil que o material sugere, ensinando as técnicas básicas da cerâmica para a confecção de objetos utilitários, artísticos ou decorativos e desenvolvendo a criatividade através da plasticidade da argila. Além de abordar as questões técnicas que envolvem o uso do material, Sil Farina caminha por uma vertente terapêutica que permite ao aluno conhecer os próprios limites para ampliá-los e modificá-los, descobrir seus potenciais e sua capacidade criadora e elaborar um repertório novo e eclético de pensamento que auxilie na solução de problemas. Desse modo, o curso visa motivar a construção de uma expressão plástica permeada por intenções, sentimentos e emoções.

ProgramaAcompanhado de exercícios verbais e escritos para desbloqueio e relaxamento e utilização de música como suporte, o curso vai abordar técnicas de modelagem com argila como:
- "Técnica da Bola" (cinzeiros / vasos)
- "Técnica da Lastra" (placas / murais / cachepôs)
- "Serpentina" (confecção de peças que necessitam estreitamento e alargamento)
- "Técnica Mista I" - Bola + Lastra.
- "Técnica Mista II" - Bola + Serpentina.
- Exercícios de textura na argila.
- Com o tema "cubo", fazer uma peça abstrata.
- Com o tema "Esfera", fazer uma peça abstrata.
- Confecção de peças abstrato-figurativas
- Iniciação para a escultura.

Público alvo
Artistas plásticos, arte-educadores, estudantes de arte e pessoas interessadas em técnicas dos trabalhos cerâmicos e no desenvolvimento criativo e artístico através da argila. Possibilidade de formação de grupos especiais para crianças, adolescentes, adultos e terceira idade.

Vagas
30


Preço
R$ 270,00 (em três mensalidades de R$90,00)

Importante
A inscrição só será efetivada após preenchimento de ficha e pagamento da primeira mensalidade, o que deve ser feito no próprio local (note que o endereço de inscrição é diferente do endereço onde acontece o curso).



Foto: Vitor Taturana


Leonardo Taturana se forma no curso. "Pensei que
fosse de comer."

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Conecttions: 10 Anos sem Francis - Victor - Wlat Whitman

Victor é o nome do cara. Possivelmente batizei meu terceiro filho assim (sem o c) por causa dele. O sujeito levava consigo aquela dose saudável de arrogância que chama a atenção de quem acha graça em uma certa dose saudável de arrogância. Cursamos aqueles três ou quatro últimos anos de colégio antes do vestibular. Nunca mais o vi, não lembro seu sobrenome e espero que esteja vivo. Lembro-me com certa freqüência do Victor, mas, essa semana, dois eventos de certa forma conexos trouxeram-me as melhores lembranças do cara.

Os dez anos da morte do Paulo Francis, sem dúvida, é a mais forte dessas conexões. O Victor, graças a algumas bombas que levei no ginásio, era pouco mais novo do que eu e não chegou a pegar o Francis do Pasquim, como eu. Mas estávamos em 1976 e o articulista estreara há poucos meses na Folha de São Paulo – graças às reformas que o Cláudio Abramo (trotskista como o Francis, na época) fazia naquele jornal – e já chegou botando pra quebrar. Sexta feira era o dia de comentar a coluna de quinta, e na segunda, falávamos da coluna de sábado. Mal nos cumprimentávamos. Já saíamos falando: “...cê viu? O cara desancou o Norman Mailer!”

Importante dizer que quem nos havia apresentado e nos feito ler Norma Mailer, entre inúmeros outros autores, tinha sido o próprio Francis. Esse, aliás, foi o grande legado dele para mais de uma geração de leitores: jogar uma bóia cosmopolita no lodeiro da nossa brasileiríssima jequice intelectual e estética – ou, ao menos, nos fazer ver o quanto somos jecas.

Éramos dois moleques imberbes e dividíamos o mesmo encanto diante da nova capa da revista Status (mulher pelada) e lendo um bom artigo do Paulo Francis. Tá, vamos ser francos, mulher pelada tinha mais importância do que o Francis discorrendo sobre Philip Roth ou Samuel Johnson. Mas, vá lá, tínhamos 16, 17 anos...

Mesmo quando Francis mandava suas vassouradas em nossos mais caros ídolos (é, adolescente tem ídolos, né?) era irresistível. Bob Dylan (a quem de certa forma admirava) era uma de suas vítimas prediletas: “Dylan era idolatrado. É ainda, por alguns. Fez algumas coisas infelizes como ter um caso com a amiga de Mogadon Suplicy, Joan Baez. Fico imaginando os dois brigando e como arma final ele cantando Blowin' in the wind e ela Guantanamera. É pior que barulho de murro em parede de quarto”. Bingo!

Lendo e vendo na TV tudo o que se falou sobre Francis, agora, nos dez anos de sua morte, faltou alguém dizer o principal: que ele ensinou muita gente (muitas vezes na base da porrada) a pensar com a própria moringa. Donde me incluo. E acho que o Victor também.

Pois eu estava lembrando do Victor por causa dos dez anos da morte do Francis quando, hoje cedo, fuçando meus livros, encontrei um exemplar de Folhas das Folhas de Relva, do poeta americano Walt Whitman. Há muitos anos que não o abro e, pra dizer a verdade, nem lembrava da existência dele na minha biblioteca. Lembrei que o Francis, no Manhattan Conecttion, quando flagrado em alguma contradição pelo bundinha Caio Blinder, adorava aporrinhá-lo (e confundí-lo) com versos de Whitman, “I contain multitudes”.

Abri a primeira página de Folhas... e me deparei com uma dedicatória curta e grossa:

distância = constante (minha?)
saudade = inconcebível
Aabraços,
Victor
1979


Convivi diariamente com esse amigo por pouco mais de quatro anos no falecido Colégio Decisão; nos anos seguintes, dividi com ele, em boa parte graças aos artigos do Francis, a solidão do desencanto com o pensamento de esquerda – hegemônico nas rodas pensantes da época. Afora um ou outro encontro casual, perdemos contato. Uma pena. Gostaria de saber o que pensa Victor sobre o mundo, trinta anos depois de nossas descobertas intelectuais juvenis.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Hisptórias Ampthigas


Imagine a cena: seu filho lhe diz que vai ter uma das profissões mais respeitáveis e sua filha diz que vai morrer virgem. O que você faz? Agradece a todos os Deuses por ser a pessoa mais abençoada do mundo. Parece óbvio, não?
Mas minha família é estranha. Meu bisavô (Aldeonofre) proibiu seu filho (meu avô Renato) de ser médico e sua filha (a tia Ligia) de ser freira. Às vezes eu fico imaginando um jantar em família. Meu avó com 19 anos chega em casa passa pela sala com uma maleta e um estetoscópio e vai direto para o quarto. Meu bisavô olha para minha bisavó que está na máquina de costura e diz:
- Esse menino...
- Que foi?
- Essa coisa de médico aí. Não sei, não. Quando era só uma brincadeira tudo bem. Mas agora é bico de bunsen pra cá, jaleco pra lá...
- Deixa, meu bem, ele é jovem. Isso passa.
- Semana passada tava tirando a pressão da filha da Dona Aurora. Daqui a pouco vai achar que isso é profissão. Porque é que ele não vai ler, escrever poesia, estudar música. Fazer algo que dê futuro!
- Aldeonofre... Você vive implicando com o menino. Deixa ele aproveitar enquanto é jovem.

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Mais tarde na hora do jantar, a família toda está a mesa. Renato está conversando animadamente com Ligia a respeito de uma receita de Elixir Paregórico que ele acabara de copiar de um amigo da escola que tinha voltado de São Paulo.

- Renato. Esse negócio de medicina...
- Pô, pai. Lá vem você de novo.
- Meu filho, existem coisas mais importantes nessa vida do que tubos de ensaio. Tem o football, tem o teatro, a música. Não é possível que nada disso te atraia. A vida lá fora é mais difícil que você imagina. Você vai crescer e perceber que nem tudo são autópsias.
- Papai, eu já me decidi.
- Depois de tantos anos de suor para criar um filho é isso que temos em troca: um médico.
- Mas papai, existem pessoas que conseguem sobreviver apenas com a medicina.
- Sim! Um ou dois filhos de barões do café, que têem uma fortuna como respaldo. Mas nós somos pessoas simples! Precisamos de alguém que trabalhe, não de "doutores". Mas está bem. Eu sou apenas um velho rabujento. A escolha é sua. Mas não venha me pedir dinheiro ou abrigo e nem digam que eu não avisei. Agora me dêem licença que eu preciso acabar de compor um samba.
Aldeonofre se retira irritado e vai para o piano. Dona Maria, sua esposa, diz para o filho entre lágrimas:
- Não ligue, Renato. Desde que seu pai terminou aquele Romance Histórico ele anda assim. Aquele personagem, o Érico, não ficou com a profundidade psicológica que ele gostaria. Enfim, você sabe como ele é. Mas sua mãe sempre estará aqui para lhe apoiar. Mesmo que você quisesse ser o Presidente eu te apoiaria!
Ligia, que até então apenas observava, fala para os dois:
- Imagine quando ele descobrir que eu quero ser freira.
- Fale baixo, menina! Seu pai pode escutar!
- Eu já escutei.
Todos olham assustados para o vestíbulo. Era Aldeonofre que voltou para buscar seu pandeiro. Assustada, Ligia corre para o quarto. A trilha sonora começa a subir. O velho contrai os músculos da face e segura o choro com dificuldade. Não ficaria bem se descontrolar na frente de sua mulher. Anda cambaleante até uma cadeira e desaba. Maria o abraça carinhosamente. Na sua cabeça uma pergunta se repetia: Por quê, meu Deus? POR QUÊ!

Pimentinha II



Querido Manuel Mann,

Antes de mais tudo gostaria de dizer como foi bom ouvir alguém desmitificar (sem S mesmo) nossa querida Hélice Regina - apelido que lhe fora dado por Nestor de Holanda pela sua mania de cantar rodando os braços.
O mito Elis é um saco. Mesmo que ela fosse a maior cantora do Brasil, essa unanimidade irritante de boteco-da-vila madalena-ao-som-de-andança-e-ou-travessia me faz querer saltar durante duzentos e trinta e oito anos de cima de uma pérgola com uma bigorna amarrada no polegar esquerdo. Fico com uma raiva fudida.
Porém existem duas injustiças em suas palavras.


Primeiro

Joyce, Maria Bethânia, Gal Costa gravaram péssimos discos na década de 80 (a Gal fez um bom disco em 81 mas depois esticou a má fase até os anos 90, então dá na mesma). Aliás, se você me disser um disco de um único artista não underground dos anos 80 que valha mais do que uma pequena audição no iPod a caminho de algum lugar e acompanhado de uma ótima leitura, eu lhe dou toda a minha coleção de figurinhas do Ploc Monsters.
Não, Chico, os anos 80 não foram bons pra ninguém. Nem o hitmaker Paul McCartney, nem Steve Wonder, nem o albino Hermeto enxergou mesmo muito bem.
Enfim, devido a isso, acho que Elis tinha chances de se regenerar. Só não deu tempo da gente saber.

Segundo

Agora eu já começo a me sentir mal. Porque o César Camargo não faz meu estilo. Sua chatice só é comparável à de mestres como Ivan Lins, Guilherme Arantes ou (tá bom, tá bom) Oswaldo Montenegro. Mas mesmo assim vou defende-lo.
Sim, ele se esconde atrás de uma pseudo-sofisticação e o resultado é aquela coisa sem sal, insípida, inodora e incolor. Mas é aí que a coisa fica interessante. Ao juntar essa correção com a ginga do Simonal, nós temos aquele gostinho Agridoce Lennon&McCartney. E Elis quando conseguia mostrar o seu melhor era de arrasar e quebrava toda a caretice do nosso amigo. Engraçado que quando eu digo "o melhor de Elis" quero dizer justamente quando ela ficava mais contida (ao contrário do que acreditam os mais impressionáveis, mais preocupados com malabarismos que com canções). O problema é que seu temperamento forte se refletia em suas músicas, se transformava em interpretação exagerada. Quem nunca sentiu a famosa Vergonha Alheia (VA) ao se deparar com seu solo no final da sublime Águas de Março? (dá, Zaziza, Dá, Zazaziza...etc). Portanto, César não é o gênio que pintam, mas também está longe de ser o Roberto de Carvalho da Elis. O cara teve suas boas fases (a pilantragem com Simonal, o disco da Elis de 1973..) É uma mala bem menor. E não tem alça, mas tem uma rodinha pequenininha lá no fundo.

Pois é, Chiquito, você há de concordar que pode ter exagerado um pouco. Acho que essas homenagens devem ter lhe afetado. Como eu estava de férias passei bem longe delas.
Isso não quer dizer que eu não concorde com a sua lista de piores discos (não só concordo, como acrescentaria algumas músicas de outros discos mais antigos). Eu também não acho a Elis a maior cantora do Brasil, apenas uma grande cantora que nos deixou grandes gravações de grandes canções em uma galáxia muito distante.
Sem mais,

Um beijo do "sobrinho",
Filipe

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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Somewhere Over The Rainbow, Way Up High...


Li essa nota no UOL hoje:

"Um professor de psicologia do Kansas colocou por terra a idéia de que homem não gosta de filmes românticos. Segundo ele, macho que é macho gosta de uma história melosa tanto quanto as mulheres. O professor Richard Harris botou 250 homens e mulheres para assistir a filmes românticos e depois mediu o nível de divertimento. Numa escala até 7, as mulheres deram nota 6, contra 4,8 dos homens. Ou seja, não tão menos quanto era de se esperar."

Daí imaginei a Dorothy de "O Mágico de Oz" chegando suavemente -- acompanhada, claro, do Homem de Lata, do Leão Triste, do Espantalho, da Boa Fada do Norte e da Bruxa Malvada do Oeste -- e passando a mão na cabeça desse pobre professor de psicologia, para então, olhando firme em seus olhos, dizer sua frase favorita mais uma vez:

"Gee, I Guess We're Not In Kansas Anymore!"