Comandando o zap descontrolado do controle da TV, parei naquela entrevistadora-cabeça-simpática, como é o nome? Marília Pêra? Marília Medagila? Sei lá, uma Marília, aí... Do outro lado da mesa, um ressentido duble de ator e poeta (uh!), Gero Camilo. Dei uma googlada no cara e comecei a entender o porquê de tanto ressentimento.
O rapaz é rato de cinema nacional. Seus papeis: nordestino pobre e oprimido (Madame Satã, Narradores de Javé, Abril Despedaçado); traficante pobre e oprimido (Cidade de Deus); presidiário pobre e oprimido (Carandiru); interno de hospício pobre e oprimido (Bicho de Sete Cabeças). Ah, e na sua breve carreira internacional, virou peneira, metralhado por Denzel Washington em Man on Fire (Chamas da Vingança), onde fazia o papel de – adivinha o quê – um seqüestrador cucaracha pobre e oprimido.
Papagaio! Isso não deve ter feito bem pro sujeito. Não é à toa que o ator/poeta (ai!) só fez reclamar na conversa com a entrevistadora-cabeça-simpática. O chororó de sempre: ninguém quer editar o livro dele, o cinema nacional precisa de incentivo, o teatro nacional precisa de incentivo e o livro “nesse país” é um artigo muito caro (não é, não – mas isso é outro assunto). E chora, e chora, e chora...
Na mesma entrevista, o poetator (ui! ai!), tiririca com tanta pobreza e opressão, cita uma Carta Manifesto de sua lavra (é incrível como essa gente se amarra num manifesto) enviada para o Luiz Schwarcz, dono da Companhia das Letras, em que diz entre outras coisas que a Companhia das Letras, por não ter editado seu livro, “hoje não passa de letras sem companhia” (é, meu chapa, o cara é poeta, né?). O que nos leva a crer que o pobre e oprimido Camilo não conseguiu editar seu livrinho, certo? Errado. O cara editou o livrinho, sim, por uma editora independente dessas que tem nome indígena e vendeu pacas, segundo o autor/ator que, nesse momento da entrevista, faz cara de modéstia (falsa)-pobre-e-oprimida.
Depois diz também que tá fazendo um sucesso danado com a peça dele, baseada em seus textos (sei não, mas algo me diz que o nordeste pobre e oprimido é o cenário de seus escritos).
Então, presta atenção: o cara vende um porrão de livros, faz um sucesso danado com suas peças e filmes, e reclama mais do que pobre na chuva. Da pra entender? Desconfio que aquela tristeza toda se dá pelo fato de o poeta/ator, um cara tão sensível, faturar em cima de tanta pobreza e opressão, será? Não sei.
O que sei é que parece que a entrevistadora-cabeça-simpática, (Marília de Dirceu?) entendeu o sofrimento do rapaz, coitado – fez cara de dozinha e encerrou a entrevista pedindo uma frase ao entrevistado que, de bate-pronto, mandou uma tão profunda, mas tão profunda que acabei esquecendo. Vou ver a reprise. Depois eu conto.